Leia aqui um poema de "a única cor possível", de Gabriel Gonzalez:
às vezes na vida por um centésimo de segundo
às vezes na vida por um centésimo de segundo tudo está numa velocidade tal que se precisa continuar indefinidamente como o poeta Hart Crane parado frente à porta cigarro em punho prestes a dizer a seu amigo Alfred S. que se mais um centésimo de segundo que se mais uma maçã frouxa no galho se mais um milímetro a mais que fosse poderia explodir um jardim abstrato além da grama e da sombra dos meus pés. conto todos os dias como envelheço quando olho um jardim como esse que nunca parado que nunca inteiro que nunca sob meus pés quando a chuva quando o sol quando a poça embriaga a todos com seu reflexo de grama subindo lento no vapor. dizem que Crane disse que na base de tudo está a velocidade. um centésimo de segundo captado de forma tão precisa que o movimento poderia continuar indefinidamente. a precisão de um estalo. o cálculo infinitesimal. esse é meu erro. meu Hart. uma exígua velocidade.
a única cor possível, de gabriel gonzalez
Gabriel Gonzalez é mineiro e vive no Rio de Janeiro. Tem poemas publicados na antiga revista Zzzumbidos e na revista digital Mallamargens. Cursa mestrado na Universidade Federal Fluminense em Teoria literária e Literatura Brasileira. Ali, estuda poesia contemporânea e sabe muito pouco o porquê.