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Leia aqui um poema de "a espiritualidade da sobrevivência", de Carvalrôss:

 

TEIA DE ARANHA, MOSCA AZUL

 

A teia expressa a nudez da aranha fiadora:

na teia além da sorte a sua lavra de cuspe

tece tranças e aguarda pela mosca azul

em seu curvilíneo voo por sobre as escórias 

 

a aranha quer enredar a mosca em sua teia

capturar-lhe o voo roubar a vibração

das asas dissecar o brilho metálico

digerir as cores fazer disto seu alimento

 

moscas porém já não vão encher seu enxame

voam aos longes dos gradeamentos da autópsia

do exame das oito mãos da intenção 

da aranha aristotélica à espreita em sua teia  

 

demônios musicais são as moscas volantes

um par de asas mais outro par muitos pares

fátuas línguas ardem chamam pelo enxame

pois em cada mosca habita um diabo em legiões

 

fiadora permanece a aranha em sua grade

separando a folha da forma e da música

porque o olho da folha pretende engolir

o instante em que vier a mosca pelos ares

 

notas aladas às telas e às pálpebras

vários dedos deslizam na mosca e na música

a nudez da mosca examina a aranha:

não é a mosca azul (Mosca Azul é uma invenção) 

a espiritualidade da sobrevivência, de carvalrôss

R$ 45,00Preço
  • Para avivar o existir de coisas e criações, é preciso dar-lhes nomes. O título “A Espiritualidade da Sobrevivência” torna passíveis de existência a obra e seu autor, Carvalrôss, em lugar do que antes não o era.


    A Espiritualidade da Sobrevivência vem à substância como um livro de poemas apresentados em seis partes. Uma das temáticas escolhidas para estes versos: as interações digitais como “forma de espiritualidade”, de mundividência, de cosmologia humana contemporânea, pronunciando, pela estética do poema, um confrontamento às formas mais usuais de escrita e a alguns dos signos que entremeiam as interações às faces das tecnologias digitais de comunicação. Estes poemas apresentam-se sob os títulos de “A Espiritualidade da Sobrevivência” e “Indiretas Ao Meu Amor”, nos quais é notado um caráter plástico da materialidade da língua mais saliente em
    relação aos “Poemas do Abismo” (que por seu turno, exploram técnicas imagéticas pela via da densidade semântica), além da intertextualidade com símbolos e passagens religiosas, em seus
    aspectos doutrinários, estabelecendo associações entre entidades digitais e entidades transcendentais: ou ídolos ou oráculos ou santidades?


    Ainda há outra parte deste livro chamada “Cólera Contra os Pedernais”. Trata-se de uma seleção de poemas recolhidos de um trabalho inédito, os quais referem a vozes emergidas de cenários urbanitas e cujos temas suscitam questões sociais como violências, desigualdades, relações de poder e, noutras situações, os escapismos que se produzem a partir do peso que a estes fenômenos, sucedem.


    Contudo, a primeira parte do livro é chamada “Duas Dobras”, composta por dois poemas de natureza metalinguística, como um prefácio que sintetiza o trabalho poético que buscou o autor. A esta parte segue-se um grupo de nove poemas experimentais que mesclam duas técnicas distintas. A primeira, que por conveniência frasal, nomearemos casualmente como: combinação homógrafa ou cacografia estilística (observada em poetas como Sousândrade e Bandeira) e poema constelar (verificável em Rimbaud), para desenvolvimento de uma terceira técnica estruturada em certo sistema de combinações de significantes entre diferentes vocábulos que inserem nas construções sintagmáticas codificações inscritas em sua própria matéria, acumulando-se, constelando-se ao longo dos textos, procurando por algum caminho que sirva de andaime para a constituição de um estilo próprio. Estes textos intitulam-se: “Fraturas Constelares”.


    “A Espiritualidade da Sobrevivência” é a obra de estreia de Carvalrôss e, o que este livro traz consigo poderá ser interpretado de maneiras diversas por diferentes olhares. A maneira pela qual observamos cada gota de tinta, é a que remonta a memória, a biografia e a genealogia de uma herança legítima e ancestral. Portanto, agradecemos às gerações, às pessoas que avivaram esta história e, para além, mencionamos estas, que vão desmisturadas do mundo e de outrens: Pai. Mãe. Irmã.

    Israel De Carvalho Rosa

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