Leia aqui um trecho de "a saga dos guardiães do universo: o retorno dos deuses esquecidos", de Cristiano José Pinto:
 
O pensamento de Raul está longe, mal consegue se concentrar no que está vendo centenas de metros abaixo com seu binóculo. Ainda pensa na última discussão que teve com Khelagar Nani, o maldito velho que os colocara naquela enrascada anos atrás. Para piorar, ainda tem os pensamentos de seus companheiros dentro de sua cabeça o tempo todo, graças a Hugo e Bruna, os telepatas de seu grupo. Aquela conexão mental facilita e muito a comunicação em missões como aquela, porém os leva, muitas vezes, a revelarem posicionamentos os quais deveriam ser mantidos em segredo; os dele principalmente.
Por exemplo, está louco para dar uns rasantes, sobrevoar a copa das árvores, os prédios, mas sabe que se fosse avistado pelas pessoas provocaria muito mais alvoroço do que os ajudaria naquele momento, o que pouco o importa, só quer acabar logo com aquilo. Seus companheiros, no entanto, gritariam em sua cabeça até ele desistir. Por esse motivo tanto ele quanto Luana, os voadores da equipe, precisam se manter bem distantes do alcance dos olhos humanos. Tão altos que seus voos circulares e as roupas azuis devem dar a sensação a quem os ver lá de baixo de que veem um par de urubus sobrevoando o Rio.
Lá estão eles, Rafael e Alice, surgem e somem em diversos pontos no solo; causa-lhe uma ponta de inveja, enraivece-o, na verdade. Mais um pensamento que ele não quer compartilhar, mas aquela ligação o força. Por que aqueles dois têm a liberdade de usarem seus dons, enquanto ele é condenado a manter-se acima das nuvens?
Sua equipe ainda conta com outros quatro indivíduos, dois caras e duas meninas, mas esses não participam daquela operação; além de ser bom nem pensar sobre eles...
“Presta atenção, Raul!”, Hugo gritou dentro da cabeça do voador. “Acho que você viu nosso alvo”.
“Não vi porcaria nenhuma...”.
“Não viu porque fica perdido nessa sua cabeça cheia de minhocas...”.
“Então sai dela...”.
“Não preciso ler sua mente para saber o que se passa aí dentro... Ou esqueceu que te conheço desde sempre?”.
“É, e não se esqueça quem é que manda por aqui...”.
“Só porque é dois anos mais velho não pense... Hei, aonde está indo?”.
Raul solta o corpo e deixa a gravidade conduzi-lo por alguns metros, quando alcança um pouco mais de velocidade, acelera na direção das árvores, centenas de metros abaixo. Seu corpo, ao atingir a velocidade do som, produz trovão que se espalha por toda a cidade do Rio de Janeiro. Muitos são atraídos por aquele estrondo, como o de um jato; ao avistarem a fonte do barulho, ficam sem entender o que pode ser aquela coisa, muito rápida, sem brilho algum, acelerando na direção da cidade, contra eles.