Leia aqui um poema de "cacofonia", de André M. Penna-Firme:
porta fechada, rua do russel
A porta fechada
perdição
um ensaio inútil
flutua
o demônio na rua
no meio do redemunho
eu-rascunho
rasgado
desde que você fechou a porta
flutuo no asfalto
Ísis
espalhado desmembrado
catorze dezesseis
quarenta e dois pedaços
era seu destino
você disse
me reencontrar
você disse
recolar os membros
eu disse
espalhados
mas você, Ísis
não correu atrás
e ainda teve a coragem
de juntar os restos
da geladeira
assemblagem tosca cortecola
e dizer:
eis osíris
dizer o nome
tua magia
desde que você fechou a porta
flutuo no asfalto
canoa sem
rumo
estive
à deriva
do nilo ao estige
espalhado
olha que zona, Ísis
a porta fechada
flutuo
osíris rei
do mundo dos mortos
eu me remonto
sem teu esforço
agora
juntarei meus cacos
no caminho de volta
e você vai ver
quanto valiam esses passos.
cacofonia, de andré m. penna-firme
André M. Penna-Firme é doutorando em Filosofia pela PUC-Rio, tradutor, poeta e artista marcial. Dedica-se à relação entre palavra, pensamento e movimento. Busca, na poética de toda linguagem, os gestos nos quais as palavras se revestem de um poder mágico, feitiços que invocam a vida a ser compartilhada com outros seres. Em última instância, busca o caminho do Filósofo-Artista, como anunciado por Friedrich Nietzsche e incarnado por Giorgio de Chirico, Antonin Artaud, Jean-Noël Vuarnet, entre outros. Durante o mestrado, estudou as relações entre literatura e filosofia através da relação filosófico-artística entre Lima Barreto e Nietzsche. Atualmente reside no Rio de Janeiro, onde produz uma tese sobre o poder imagético do discurso poético-filosófico de Nietzsche e Diderot.