Leia aqui um poema de "hiperbárico", de Matheus de Simone:
ainda em tempo
dentro deste prédio
que estamos vendo que desaba
ainda que sob fortes fundações
sobre pés espirituosos
desaba, meu bem
não vê que, sim, desaba?pois daqui façamos isto:
de estilingue
telepatia
regras, banhos de guiné
preces, macumba online
tudo vale
para que percebamos
que as lajes
tetos-escadarias
janelas IPTU
todas inadimplências
todos vácuos no elevador
conversas fiadas
sobre como o tempo é doido
todo o tempo dentro
os extintores, as festas
as transas vizinhas
vozerio-chuveiro
os olhares-cabeças
as fugas-encontros
tudo isso que - olhe bem daqui
parece vacilar, não parece?pois vale de tudo agora
como sempre
mas te digo
como nunca:dentro dessa casa
tem outra casa
que tem desejos
e que te lembra
que inédito mesmo é lembrar
nunca mais esquecer
que a vida é vizinhança.
hiperbárico, de matheus de simone
Matheus de Simone nasceu no Rio de Janeiro, em 1994. Cresceu em Cabo Frio e mora em Salvador, onde cursa o Doutorado em Artes Visuais pela Universidade Federal da Bahia. Participou do curso de Poesia Expandida da Casa das Rosas em 2020. Artista multidisciplinar, recorre à escrita, desenho, bordado, audiovisual e escultura, com interesse de investigar noções de confiança, cuidado e proteção, sobretudo em contextos de medo, violência e incerteza. Hiperbárico é seu primeiro livro de poesias.