top of page

Leia aqui um trecho de "ibirapitá", de Luiz Filipe Correia:

 

DOCUMENTO 3

Resenha musical escrita pelo colunista de celebridades Fancy Boy

 

A polêmica estante de Aniralira por Fancy Boy

 

NOS ÚLTIMOS DIAS não se falou outra coisa nas redes sociais: a ostentação de livros. A celeuma tomou conta do aplicativo Xiu-Xiu quando a cantora pop Aniralira, que já gravou com astros pop do calibre de Conan Gray, Bad Gyal e a Rainha do Pop Doja Cat, apareceu em uma live exibindo uma colossal estante de livros. Os usuários da rede social entraram em polvorosa e "caíram matando" em cima da cantora. Aniralira foi criticada pelos internautas por, supostamente, ostentar uma estante repleta de grossos e volumosos exemplares de 2666 de Roberto Bolaño, A Montanha Mágica de Thomas Mann, Graça Infinita de David Foster Wallace, além de todos os volumes de Em busca do Tempo Perdido de Marcel Proust.

Os espectadores mais atentos identificaram que a biblioteca da cantora também conta com as sagas completas de Crepúsculo, 50 tons de Cinza, Jogos Vorazes, Harry Potter, Senhor dos Anéis e O Guia do Mochileiro das Galáxias, além das obras completas de Virgínia Woolf e Conceição Evaristo. Os seguidores, ainda mais atentos, repararam, inclusive, nos exemplares rarézimos e caríssimos de clássicos da literatura universal como Dom Casmurro de Machado de Assis, S. Bernardo de Graciliano Ramos, Quarto de Despejo de Carolina Maria de Jesus e Úrsula de Maria Firmina dos Reis.

Contudo, para muitos, mais do que a variedade no gosto literário, o que chamou a atenção foi o extremo mau gosto em exibir nas redes sociais a estante forrada de volumes que são um luxo só, além de carézimos, em meio à fome e à miséria que tomam conta de Ibirapitá.

As polêmicas em torno da ostentação de estantes lotadas de livros não é nova. As críticas começaram já nos primeiros anos da Peste, quando as referidas estantes passaram a compor o "cenário" ideal para as mais variadas lives e encontros virtuais que pipocaram por conta do isolamento. Na época, as estantes foram criticadas por serem uma espécie de “ostentação intelectual”. A situação piorou depois do reajuste e do imposto sobre papel impresso, que tornou o preço dos livros impraticável. Tal imposto, longe de provocar o fim das versões impressas, fez o mercado editorial se adequar à nova realidade com as edições impressas sob demanda, para quem quisesse e pudesse pagar. Além disso, as edições antigas viraram artigo de pompa e requinte para colecionadores, como a estante de Aniralira mostra, e alimentaram todo um mercado paralelo de contrabando de luxo. Este colunista prefere não opinar sobre o tema, há aqueles que acreditam que o preço proibitivo dos livros faz com que exemplares físicos sirvam apenas como enfeite, desperdício e suntuosidade. Um “símbolo” de riqueza e não de conhecimento. Ostentação não mais intelectual, mas, sim, e principalmente, financeira.

Como se sabe, também, muitas pessoas que outrora exibiam orgulhosamente a estante de lotada de livros, agora têm vergonha de expor um exemplar impresso que seja. A ostentação não pega bem e pode dar gatilho em algumas pessoas, o que sempre acaba rendendo alguma espécie de de “cancelamento”, para usar um termo Old School que hoje estou nostálgico. Longe de mim querer defender a cantora Aniralira, todos sabem que já tivemos desavenças e ela perdeu um processo que moveu contra a minha pessoa. Mas esse colunista, como todos também sabem, luta contra os cancelamentos e sempre preza pela verdade e a imparcialidade dos fatos. Doa a quem doer.

ibirapitá, de luiz filipe correia

R$ 45,00Preço
  • Luiz Filipe Correia (1982) é doutor em História Social pela Universidade de São Paulo e possui graduação em história e letras pela mesma instituição. Cresceu imerso na influência das tecnologias digitais e da televisão, características marcantes da década de 1980. Inspirado pelos filmes de ficção científica que prometiam um futuro impulsionado pela tecnologia e ciência, encontrou sua paixão nos gêneros literários da ficção científica e especulativa, bem como na literatura experimental. Ao longo de seus quarenta anos, desenvolveu um gosto diverso pela literatura, porém, mantendo sua preferência pela ficção especulativa e a exploração de narrativas não convencionais. Seus autores favoritos, que vão desde clássicos como Machado de Assis, Lima Barreto, Virginia Woolf, James Joyce, Franz Kafka, Aldous Huxley e George Orwell, até contemporâneos como William Burroughs, J.G. Ballard, Ursula K. Le Guin, Roberto Bolaño, Daniel Galera, JP Cuenca e Lourenço Mutarelli, refletem sua diversidade de interesses e sua constante busca por novas narrativas e perspectivas.

bottom of page