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Leia aqui um trecho de "madame lua", de Félix Kairos:

 

Toda estrela precisa de luz própria. Sua radiação é forte o suficiente para projetar seu brilho a anos-luz de distância e, assim, iluminar diferentes corpos celestes.

Esta é a história de uma estrela.

Madame Lua era uma mulher vaidosa. Seus caprichos eram conhecidos pelo mundo, tanto quanto sua fama. Era a mulher mais desejada e amada de toda a Via Láctea.

Sentada em frente ao espelho, Lua observava sua bela face acinzentada. Ela passava maquiagem para que o rosto ficasse sempre em destaque. Ali, podíamos ver seus olhos verdes brilhantes destacados por uma sombra preta. E um batom roxo, tão escuro e pesado que causava medo até em sua produtora.

Joana, no entanto, era uma mulher tímida. No alto dos seus um metro e cinquenta e cinco, tinha de suportar sempre os desejos estranhos de Lua. E eles nunca eram poucos.

— Eu quero uma melancia sem sementes, querida — disse Madame Lua mais cedo.

— Eu quero plumas e paetês para o show — pediu Lua, a duas horas do show.

— Eu quero que tragam um milkshake de chiclete para agora! — berrou Madame Lua a minutos do show.

Era de fato uma mulher exigente, e sua lógica nunca, nunca devia ser questionada, pois, além de viver como uma estrela, era uma mulher muito inteligente e nunca agia de forma ilógica. Na verdade, sua ascensão era tão fabulosa que nem seus familiares compreendiam o que havia acontecido.

Madame Lua, cujo nome de batismo se perdera com o tempo, viera de uma linhagem pobre. Nunca havia comido nada chique até seus vinte e três anos, quando encontrou a esposa Ângela pela primeira vez.

Ângela era uma mulher rica e de sentimentos descomplicados. Ela se emocionava com tanta facilidade que poucas palavras de Lua foram suficientes para convencê-la de que seu amor de uma vida inteira estava bem à frente. Lua tinha a lábia de uma poeta.

O resto você deve imaginar.

madame lua, de félix kairos

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  • Entre o Niilismo e a Anarquia, Félix se construiu por escritas. Nasceu aos dezoito, ainda cursando Letras pela UFMG, e daí foi só ladeira abaixo. Toda a sua dor foi para a construção de uma estética artística extensa. Com publicações acadêmicas e literárias, Félix tenta buscar rupturas narrativas ou limites, de onde ver o nome Kairós, que suprimiu por estética o acento. Mestrando de literatura, o autor busca ideologias que compõem um corpo político, de onde surgiram inúmeros personagens pendulares, entre o profano e o irrefreado - como Madame Lua. Alimentado pela cultura pop e outras artes, Félix Kairos constrói a passos largos um universo grande e caótico para construir um conjunto de corpos sem órgãos, de monstros, crianças e outros vilões inconformados.

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