Leio o poema "Santidade e Histeria", de Nina Camargo.
o que é mais feminino do que ser forçada a ficar sozinha
o que é mais feminino do que não ser capaz de se ver sozinha
o que é mais feminino do que ter medo de ficar sozinha
o que é mais feminino do que querer – e não conseguir – estar sozinha
o que é mais feminino do que sobreviver
o que é mais feminino do que não morrer de raiva
quando ensinar já virou rotina
quando cuidar já virou rotina
quando se desculpar já virou rotina
o que é mais feminino do que insistir
o que é mais feminino do que competir por uma vida que não quer
porque nasceu ou se descobriu mulher
porque ser mulher é fraqueza, mas
não ser mulher e acharem que você parece uma mulher, é fraqueza
o que é mais feminino do que não ser suficientemente mulher
o que é mais feminino do que não ser suficiente
quando penso em quantas vezes mascarei a compulsão com o fumo
quando penso em quantas vezes cobri o seio para não fechar o punho
quando penso em quantos deles se sentaram ao meu lado sem assunto
eu me pergunto
o que é mais feminino do que o silêncio
o que é mais feminino do que gritar e te mandarem fazer silêncio
o que é mais feminino do que não pedir socorro e te perguntarem
mas por que é que você fez silêncio
Mormaço, de Nina Camargo
Nina Camargo tem 22 anos. É caiçara, nascida e crescida no município de Ilhabela, mas reside em São Paulo. Também é pedagoga e estudante de História da Arte. Escrever poesia, para Nina, é um exercício de pertencimento e permeabilidade.