Leia aqui um poema de "mulher à deriva", de Danyelle Schetine:
Lilith
Surgimos da poeira, feitos um para o outro
Assim como o pó que nos criou.
Você me relegou ao esquecimento, queria me controlar, eu resisti
A solidão se tornou meu lar, profanou meu nome, odiou o meu poder
Éramos iguais-não para você
Sumi
E você ficou na lembrança
De todos que me odeiam
Sou feitiço
Sou a luz da lua
Brilhando enquanto uivo
Uma loba
Domino o meu prazer
Sou uma força
Natureza implacável
Tentaram me apagar
Renasço em cada
Mulher que ousa
Resistir
Cada sangue que escorre pela terra, relembra minha existência.
E toda mulher que reage, grita meu nome
Lhe dou força, e o que você disse ser demoníaco, eu julgo beleza.
Mulheres cortam seus cabelos,
Queimam os cozidos
Abandonam os lares
Suas bocas estão ainda feridas pelo último soco
A marca do amor que você deixou
Elas cambaleando juntam as mãos
Estão nas praças com fotos dos filhos desaparecidos
Somos pontinhos incômodos em sua paisagem
Estamos nos reerguendo
Somos baratas na casa recém mudada
Percorrendo todos os espaços
mulher à deriva, de danyelle schetine
Danyelle Schetine, professora e escritora, 39 anos. Natural de Sergipe, reside atualmente em Piranhas/Alagoas. Publicou: Ritual (Ed. Lume), Quadro Delirante (Ed. Lume), contos longos no gênero Insólito publicados na Amazon.