Leia aqui um poema de "não há poesia na betoneira", de Rubens Moraes:
Genocídio
Um dia aportaram seus navios
Trouxeram consigo pragas
Além de si mesmos.
Dizimaram com doenças
Fogo e armas
Derramaram sobre nossa cultura
O sangue de Cristo
Que por aqui, era pouco conhecido.
Construímos para eles grandes casas
Grandes igrejas
Nos disseram:
“Agora trabalhem”.
Um dia aportaram com seus navios
Trouxeram mais gente, de cor diferente
Amarrados até os dentes
Vinham das costas, do grande continente
E agora pra eles disseram: “trabalhem”
E eles trabalharam.
Morreram
Se revoltaram
Depois tudo
Depois de todo o chão limpo
Estavam livres para morrer de fome.
Um dia aportaram aqui
Em grandes navios
Em longos trilhos
Em longas estradas
Trazendo de todos os lados
Grandes ferramentas.
Um dia instalaram aqui
Grandes indústrias
Máquinas muito ágeis
Máquinas muito caras
Máquinas que matavam.
Chamaram pra lá vários famintos
Todos muito livres
Para escolher entre a morte
E a dor do assalariamento
Percorreram as estradas
Os trilhos e os grandes rios.
Se amalgamavam em milhões
Em todos os lugares eram muitos
E agora eles lhes disseram:
“Trabalhem”
E eles trabalharam.
Aportou por aqui em aviões
Cheios de milhões
A arrogância daqueles vilões.
Espalharam frases virulentas
Pegaram a todos sem dó
Aos montes iam morrendo
E eles disseram: “mas não podem parar de trabalhar”
E não terá prevenção
Ou imunização,
Disseram eles:
“Tem que trabalhar”
não há poesia na betoneira, de rubens moraes
Olá, sou Rubens Moraes. Nasci em 1993 em Fortaleza, Ceará. Foi no calor dessa terra que encontrei a afeição pelas artes de modo geral, mas principalmente pela poesia, pela música e pelo teatro. Leminski, Brecht e os Racionais MC’s são as minhas principais inspirações para converter palavras em poesia, o que faço desde os meus 18 anos de idade. De modo interligado, foi, dentre outras coisas, o contato com esse modo de fazer poesia que denuncia a realidade que me levou a ser militante comunista e de movimentos populares e a cursar Ciências Sociais na Universidade Estadual do Ceará.
Sempre com a ideia de que a arte também é condutora de transformações, iniciei em 2013, junto com colegas da universidade, o projeto Ágora, uma página no Facebook com o intuito de compartilhar conhecimento científico e arte, principalmente no campo da literatura e das artes plásticas. Com o tempo a página foi tomando um rumo mais poético até se tornar o que é o hoje a página no Instagram “Concretude Poética”.
Embora minhas publicações na internet tenham iniciado apenas em 2013, a literatura faz parte da minha vida desde muito pequeno, quando minha vó lia para mim histórias em literatura de cordel, literatura essa que guardo extremo respeito e afeição. Dito isso, hoje reconheço-me como escritor de poesia que vê as belezas do mundo, mas também suas mazelas, e que essas são totalmente possíveis de serem transformadas.