Leia aqui um poema de "não tenho dinheiro para vender poemas contos sonhos", de Bartira Dias:
no chão tem água perene
sim, são pólos que sobrevoam de um lado ao outro onde sobrevém
queimam pelo sim
ardem pelo talvez
fico imersa na superfície e não enxergo o dentro
olhos saltam para fora e percebo como é difícil se desmembrar
é impossível entrega sem sensação de abandono
e como não tenho ideia de amor sem que seja possível não dizer
o que mais gosto em você
me tornei essa coisa sem razão
sem suportar-se feia
que diz não
que olha de soslaio
sempre amedrontada
com raiva
com medo
incapaz do zelo
e muito menos de solidão
é tão tedioso este apartamento
este solo a pedido de paz
o toque quase sem querer
algo prende e não é latente
é algo amorfo
sem expressão ou vontade
e tudo o que queria por necessidade
é silêncio sem cárcere
aprender sorrir e expandir mesmo com dor
é tão difícil gostar de tu
e ouvir nãos de gente errada
e chorar em silêncio
e dizer não a quem quer mais carinho
e abraçar
tudo odeia
e eu no verso mudo
sussurro
sem mais de mim
num som indigesto
onde há corpo
no plexo
não sou só eu que morro no fim
mas antes mordo
berro
grito
choro
penso que existo
quando não enxergo nada que não seja medo ou fingimento
só queria entrar embaixo de mim
e ouvir o segredo do que me fez assim
ver mar calmo
maré baixa
que entende atende o atravessamento daquilo que falta
para saciar os nervos de cada partida.
não tenho dinheiro para vender poemas contos sonhos, de bartira dias
Bartira Dias de Albuquerque é mãe de Inaiê e Dandara, nascida em Crato, região do Cariri/Ceará. Escritora, socióloga, artista caminhante, anarquista, ciclista, performer, artivista, yoguera e jiujitera. Vive em trânsito, dos interiores sertanejos às praias. Em 2006 resolveu viajar pelo Brasil de bicicleta e desde então a vida se estende nos aros, pedais, garupas, corpas, sementes, crianças... De formação é Doutora (2014-2018) e Mestra (2010-2012) em Educação brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É também graduada em Ciências Sociais (2000-2005) pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) onde iniciou uma pesquisa sobre arte e loucura, culminando no Livro Noor em Nós (2010), premiado pelo edital de Autor(a) Cearense Caetano Ximenes Aragão (Poesia), que traz de forma poética a experiência vivenciada com mulheres internadas num hospital psiquiátrico no ano de 2005. É autora do livro Terra tremida de natureza dançante que foi selecionado pela chamada de originais de Mulheres pela editora Libertinagem (1° SEM/2023).