Leia aqui um poema de "o capitão tocava o sino", de João Gabriel Brito:
PROPÓSITO
Fiz um versinho que em sua tristeza
não dialogou com nenhuma outra tristeza.
Os homens estavam sérios e não o notaram.
Nem sempre sou poeta – na maior parte do dia
sou estudante e trabalhador. Eu também fico sério.
Há na seriedade de quem se diz poeta
uma certeza inútil, e há nessa certeza
tantas outras certezas, tanto ou mais vazias.
Nem sempre estou disposto a estudar e trabalhar
– Há uma pequena parte do dia (não em todos os dias,
nem mesmo na maioria deles) em que eu fico certo
de que sou poeta e de muitas certezas inúteis
me sucumbo.
Penso que fazer um verso é solene obrigação
como se no mundo não houvesse fome.
Então eu faço um verso sobre a fome.
E, certo do inútil, acredito ter feito a minha parte.
No entanto, fico sério e percebo:
Poeta nenhum fez a sua parte,
eu menos ainda.
Não acho que a poesia seja coisa útil,
mas muita coisa especial é inútil: futebol,
ficção científica, aprender latim.
Então eu me comovo
e comovido escrevo um versinho.
É propositalmente que eu não descubro a roda.
o capitão tocava o sino, de joão gabriel brito
Joao Gabriel Brito nasceu em Cametá – PA, às margens do Rio Tocantins. Cursa Direito na Universidade Federal do Pará. É autor do romance “Pelo Caminho do Rio Envelhecido” (2021), que recebeu o Prêmio Dalcídio Jurandir e foi publicado pela Imprensa Oficial do Estado do Pará e também do livro de poemas “Não Tenho a Resposta, Tenho o Mistério” (Editora Folheando, 2023).