Leia aqui um poema de "pássaros mortos a facadas", de Claudio Gadelha Rocha:
f
as facas
mordo metade inteira do pescoço de um rapaz tão
levezinho
como leão estraçalha a garganta de um cervo
ele se abate entre meus braços
fininhos
sou como uma moça cheia de delicadezas
e gosto de morder aos poucos as pernas braços dedos
e
empurrar a testa contra o queixo
suspirar tão profundo a incisura jugular
cheiro de pele mas penso nos ossos
tíbia úmero escápula
gosto de imaginar o que há por dentro
abrir aos poucos um homem gentil
os pulmões limpinhos
encaixar-me por dentro de suas costelas
sentindo-me incrivelmente seguro
nada ruim há de acontecer
pássaros mortos a facadas, de claudio gadelha rocha
Claudio Gadelha Rocha nasceu em Fortaleza, é sociólogo e escritor. Em seu título melancólico “pássaros mortos a facadas”, o autor faz um relato poético da dor latente de existir e de uma memória antiga da não existência - do sentir e do não sentir.