Leia aqui um poema de "pluviopoética", de Luana Peixoto:
Anja caída
Quem vê os outdoors que fiz
As algazarras e as imprudências
Acha consigo em sua inocência que sou infeliz
Mas não vê que o que compensa
é ter riso na despensa assim pra quando precisar
A vida é esse precipício que nos lança
E a felicidade é uma paisagem da queda
Um esbarrão com o outro nas esquinas do abismo
A sensação de pés no chão mas a certeza que não
Felicidade nessa queda-vida
Vem da ordem da mudança, da resposta
Da novidade e do prazer
Essa vida: queda sem trégua
É o chão e o sangue dos machucados
o andar, o aprender voar novamente
Subir, subir, subir, subir...
Esbarrar em queda, criar asas,
perder asas, o chão, os machucados
A cegueira do vento que seca os olhos
O balançar dos cílios e as metáforas em dança
Aterrados e sem terra
Lançados à desordem, ao nada
Ao tudo e ao que não se alcança
Ao próprio limite e além
Mas e o sentido de tudo isso? Me pergunto
Subir, cair, se machucar, reaprender
E depois o término, e depois o ser, ser só pretérito
E depois sermos pós, e depois sermos lembranças
E depois da nossa lembrança, sermão?
E depois, os restos pérfidos, vendaval
e depois os erros perdidos, perdão
E depois, os amores sem resposta, o remorso
E depois, as flores para o caixão...
E depois do depois só questão...
E depois tudo o que não importa
Pois ainda há vida pra viver em vida
pluviopoética, de luana peixoto
Luana Peixoto é nascida em Arapongas e vive no Rio de Janeiro. É poeta, atriz, pesquisadora e dramaturga. É mestre em Ciência da Literatura pela UFRJ e formada em Letras pela mesma universidade. Atualmente cursando Artes Cênicas na UNIRIO, com interesse nas poéticas do corpo, do movimento, performance e criação dramatúrgica. Na sua poética não existe separação entre corpo e espírito, entre a natureza e a razão, todas as distâncias são diminuídas até à fusão, então não se sabe se quando a chuva cai, é a chuva que cai, ou é ela que se derrama..