Leia aqui um poema de "rastros das soturnas danças com a dor", de Rafaela Amhaz:
quem saiu fui eu
aos onze eu ainda cantava
a-do-le-ta
le petit
le poula
le cafe com chocolá
com as vozes ecoando no recreio
e seguia brincando
sabendo ainda
ser criança
aos doze o primeiro sutiã vestiu
as duas pequenas ervilhas
que em mim cresciam
fazendo eu me achar ridícula em frente ao espelho
aos treze
meu útero manchou
uma calcinha velha
me mostrando a dor em morar num corpo que sangra
aos catorze
a campainha do intervalo tocava
para me lembrar que
os livros poderiam ser minha morada
enquanto eu não soubesse em quem confiar
aos quinze
a minha caneta azul encontrava as folhas soltas da agenda velha
para me rasgar em palavras
/era isso ou a dor rasgar meus braços/
e dos dezesseis em diante,
fui percebendo que eu até queria confiar
mas insistia em andar só
achando que estava tudo bem em repetir o adoleta
puxa o rabo do tatu
quem saiu foi tu
lá se foi alguém que nunca mais vou abraçar.
rastros das soturnas danças com a dor, de rafaela amhaz
Rafaela Amhaz escreve em diários desde a infância e encontrou na escrita, uma forma de se rasgar em palavras para continuar vivendo. É formada em pedagogia, professora, artesã, artista e o que mais vai descobrindo no caminho. Em 2022, passou a fazer parte do Coletivo Escreviventes e participar das seleções e publicações internas. Seus textos “isqueiro” e “te quebrar foi minha sorte” foram publicados em edições da revista Contos de Samsara e um poema chamado “parto da falta” publicado na antologia Tantas Palavras pela Editora Sanhauá. Realizou uma parceria para a escrita do roteiro de uma peça de teatro junto à Penumbra Lab chamada “A mulher que fugiu do seu texto” que foi a público em 2023. Atualmente, passou também a fazer parte da revista impublicável pelo Medium, rede a qual utiliza como divulgação de seus escritos, juntamente com o Instagram. mora em Curitiba, PR.