Leia aqui um trecho de "sonhos em conexão com a realidade", de Fabia Torres:
Alguns retornos não trazem ninguém de volta — apenas nos lembram do que ficou para sempre no passado. Escolhi começar este capítulo pelo fim — pelo meu retorno a Paris, depois que ele partiu — porque foi ali que tudo ganhou um silêncio irreversível. Foi nesse espaço, na ausência mais crua, que as lembranças começaram a pulsar com mais força, como se cada rua, cada café, cada vento gelado carregasse um fragmento do nosso amor. Voltar sozinha foi como caminhar por um cenário onde ele ainda existia em cada detalhe, mas que eu já não podia tocar — como naquela canção do Coldplay que sussurra: “and I will try to fix you”, mas a ausência insiste em não se deixar consertar. Talvez por isso eu precise contar tudo agora — não para reviver a dor, mas para eternizar a beleza do que fomos, mesmo que tenha terminado. Depois de trinta dias, cá estou novamente no Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Há apenas um mês, cheguei aqui com o coração acelerado, cheio de esperança e amor. Naquele momento, o mundo parecia leve, como se tudo estivesse prestes a se alinhar. Atravessei os corredores deste aeroporto com a certeza de que os dias seguintes seriam preciosos — talvez dias, quem sabe semanas, e, com sorte, até anos ao lado de quem amo. Havia uma ponta de medo, é verdade, um sussurro de que aqueles momentos poderiam ser os últimos felizes. Mas a esperança falava mais alto.
sonhos em conexão com a realidade, de fabia torres
Fabia Torres é uma educadora que aprendeu a dançar entre o silêncio e a tempestade. Professora dos anos iniciais e de Geografia, acredita na potência do conhecimento e na sensibilidade como forma de transformar vidas. Depois de atravessar uma crise profunda de depressão, encontrou na escrita uma ponte — entre o que dói e o que cura, entre o que parece impossível e o que pulsa como esperança. Em "Sonhos em Conexão com a Realidade", seu livro de estreia, convida o leitor a caminhar por mapas afetivos, cartas não enviadas, despedidas e reencontros — porque, às vezes, a realidade precisa do sonho para fazer sentido. Para Fabia, escrever é resistir com delicadeza. E viver é criar caminhos entre o que somos e o que ainda podemos ser.