Leia aqui um trecho de "tiros de alguém sem sorte", de Alexandre Alves Bareicha:
A chuva parece nunca passar…
Observo uma figura surgir em meio à tempestade, um verme de sorriso travesso e olhar perverso se aproxima de mim e estende sua mão para me entregar algumas balas, sem pressa alguma, como se cada segundo da minha vida valesse um ano.
Encaro por alguns segundos aqueles pequenos fragmentos de metal cheios de pólvora, e minhas mãos começam a tremer ao sentir a fome das câmaras do tambor da arma que eu possuía, sedentas por uma nova chance, uma nova risada. Destravo a pistola e coloco as balas em seu devido lugar, puxo o cão e miro em meu objetivo.
Quando temos o poder em nossas mãos, o caminho parece ser mais fácil… mas não é.
Um… dois tiros disparados, um desperdício total de esforço.
Três… quatro tiros e vislumbro um progresso digno de palhaço.
Cinco e finalmente o sexto tiro… um sabor doce de vitória vem aos meus lábios junto de um pequeno sorriso, entretanto, os olhos já afiados para qualquer desgraça foram mais rápidos e vejo o quão perto eu passei de acertar o alvo. Porém, “perto” ou “quase” na vida é outra palavra para derrota, queda, falha, e assim o que era para ser um sorriso estampado no rosto vira mais um fio de cabelo branco e algumas olheiras.
A chuva continua a nos açoitar e novamente o verme vem até mim, oferecendo tiros para um alguém sem sorte.
tiros de alguém sem sorte, de alexandre alves bareicha
Alexandre Alves Bareicha é um escritor de essência, que sempre encontrou nessa arte um repouso para alma e um alívio para a mente, e fez na literatura de horror a sua morada. Brasiliense que está em Goiânia, ele nos assombra com uma escrita visceral desde 2019 e não pretende parar tão cedo (ou nunca, dependendo do quanto você acredite no que lê).