Leia aqui um conto de "óculos escuros", de Marcos Samuel Costa:
Brevemente longo
O destino. A vara e a força. Os nervos. A cama. Os gemidos. O gozo. As tranças no cabelo. A gala. Os pontos roxos. Rochas. A gata violenta no telhado. O cão dengoso no quintal. A vizinhança. Os muros. Aos doze anos de idade ele não amava. Aos dezesseis amou alguém. Aos vinte sofreu por causa do amor. As fábulas. O garoto magro. Queria fazer tábuas de bananeiras. Pintou o cabelo, furou as orelhas. Criou uma conta no Tinder. Frequentou motéis na Cidade Nova 6. Fez novos amigos. Queimou cartas. Dores apareceram. Apagou chamas. Mas pensava no garoto o dia todo. Fazia café e tomava sem companhia. Mudou de emprego. Comeu muito churrasco. Engordou. Criou um porco desses que não cresce. Diariamente coloca veneno para ratos na cozinha. Marcou um encontro no app e foi assaltado. Apanhou. Com o pau na mão cuidou de esquecer o passado. Forte, tranquilo e cercado de boas energias, morreu na madrugada seguinte, vítima de uma comida mal digerida e um colo vazio de amor, de um desisto sem endereço físico.
óculos escuros, de marcos samuel costa
Marcos Samuel Costa é natural de Ponta de Pedras, Ilha de Marajó (Pará). É um dos principais autores de sua geração, conquistando importantes prêmios em sua carreira literário. Ganhou o prêmio Dalcídio Jurandir, com o romance "O cheiro dos homens". Foi finalista do Prêmio Mix Literário em 2021 com o livro de poemas "No próximo verão", este vencedor do Prêmio Literatura e Fechadura, e em 2023 com "Os desertos" também semifinalista do Prêmios Oceanos 2024. Além disso, venceu o Prêmio Uirapuru de literatura 2021 e foi jurado do Prêmio SESC de literatura em 2021 na categoria contos.