Leia aqui um poema de "5 horas", de Flora Soutello:
5h
São 3h e 30 da manhã
às 5h levanto pra trabalhar.
Acordo com o barulho do ponteiro do relógio
O barulho me dá angústia profunda
Penso que os relógios deveriam ser silenciosos
A minha cabeça faz tic tac tic tac tic tac
Ou serão apenas os ponteiros?
Neste exato momento a minha existência dói desde o mindinho do pé até o fio mais novo da minha cabeça
E às 5h preciso levantar
Sinto tua falta
e meus ossos ardem,
O meu estômago implora por matéria-prima nova e minha bexiga explode,
mas é insustentável a ideia de se mover.
Às 4h não consigo desligar a minha mente
A minha própria respiração me asfixia
Os olhos pesam toneladas
E o cheiro da planta que deixei morrer exala por todo o cômodo minúsculo,
Pútrida que nem eu,
Pequeno que nem a minha existência
O mundo não para pra mim
Às 5h preciso trabalhar.
5 horas, de flora soutello
Flora Soutello é escritora e professora formada em Letras pela Universidade do Estado do Pará. Natural de Belém do Pará, no norte do Brasil, atualmente é mestranda em Estudos Literários pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Pará e desde sua graduação centraliza sua pesquisa na poesia de Sylvia Plath, portanto, a poetisa e seu estilo têm grande influência em seu modo de pensar e consequentemente, em sua escrita. A escritora também lê muito e admira a escrita feminina de autoras como Hilda Hilst, Anne Carson, Clarice Lispector, Emily Dickson e Matilde Campilho, além de gostar muito de gatos e música.