Leia aqui um trecho de "a casa oculta do sexo", de Elias Lazaroni:
 
Uma das coisas que envolvem a culpa é o fato de não nos permitirmos a felicidade. Eu sabia que minha vida com Lucia não duraria para sempre. Tinha para mim que aquilo não me era merecido e que a qualquer momento Deus faria alguma coisa para equilibrar a balança. A ideia de ser feliz com Lucia me apavorava por conjecturar sobre qual desgraça humana o Divino me traria para deixar o jogo da vida igual. Não consegui fazer a pergunta mirando diretamente os olhos dela; levantei a garrafa de tequila e, encarando-a pela transparência do vidro com o aracnídeo, perguntei:
 
– Você tem medo da Morte?
 
– Não.
 
– Por quê?
 
– Segundo Lavoisier nada se cria ou se perde, tudo se transforma. O corpo humano é uma máquina que precisa intermitentemente de energia, gerada pelas mitocôndrias, para funcionar. De alguma forma, quando morrermos, con- tinuaremos a existir através dessa energia.
 
– Por quê?
 
– Porque a energia, como mostrado por Einstein, possui massa. Produzimos uma quantidade tão imoral de energia somente para ser que seria impossível que ela se perdesse por completo quando morrermos. A Lei da Gravitação Universal, sugerida por Newton, diz que, se dois corpos possuem massa, então eles sofrem a ação de uma força atrativa. Minha energia ficará por aí até não encontrar mais outra energia proporcional à sua massa e depois provavelmente vai, por conta do seu peso ínfimo, subir até entrar em órbita e parar de rondar nosso plano terrestre. De modo literal.
 
– Por quê?
 
– Porque você é um viadinho apaixonado e eu vou puxar seu pé de noite pra você deixar de ser trouxa. Fodam-se vocês dois, eu sou foda.
 
Gargalhamos, os três. Heleno e Lucia viraram uma dose cada. Continuamos a beber e eu aceitei, naquela noite, o pedido de empate de Deus.