Leia aqui um poema de "a festa da noite baldia", de Thales Alves:
Hipóteses de tudo
Ao sondar o som das distâncias
medidas em ermos
Compasso-gesto que se despe-despede
Pede
um instante
a mais.
Suplício restinho
Um beijo-golinho
Um pedaço-carinho
Uma canja
Um choro
Um bis...
Caminhos, indícios vagos
Um solzinho de depois da chuva
A primavera perto
Fraseado de meia estação
O peito todo tecido
Entardecido
– O corpo dela tinha cheiro de chuva-de-terra-molhada.
Existem várias horas do amanhecer
Cada um acorda num tempo
Mas madrugada mesmo
Aquela densidade noturna
da profundeza de espécie escura.
Sempre é só uma,
a mesma, para todos.
Um café um cigarro um poema
Um desejo constitutivo e basal
Quando, pela manhã, você me conta um sonho
Quando, ao anoitecer, você diz o boa noite final
Tem horas em que o amor é pra viagem.
Não pode comer aqui,
Tem que levar.
Quantos anos couberam na troca das bocas
Na mistura das vozes
num gemido diáfano
Etéreo
No avesso-espasmo-tempo
Contraído no encaixe-dansa[1]
Pernas e panos
macios-músculos
O coração espalhado pelo corpo
pelo carro
A tontura da pele
Na tortura salivante
Do olho por olho
Lágrima-baba-boca
Suor-hálito-corpo
[A queima roupa]
Alcoólico tato
Olhar etílico
O desejo que me põe
a festa da noite baldia, de thales alves
Thales Alves nasceu em São Paulo, em 1988.
Escreveu os primeiros poemas ainda na infância, aos 11 anos de idade.
Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos - UFSCar. Formou-se em Comunicação Social e Letras. Atualmente, é Professor de Língua Portuguesa na Rede Municipal de Ensino de São Paulo e Professor de Produção de Texto e Teorias Literárias no Ensino Médio.
É ator, diretor de teatro e músico de dentro do quarto.