Leia aqui um poema de "a gaveta das coisas urgentes", de Nicola Gonzaga:
Quimio
ancorada no fiapo
atravesso pontes
na bolsa pequena um objeto pesado
é medo? - perguntaram
acho que sim, respondi
exponho as cicatrizes
analisam
já está bem melhor, disseram
exponho os dilemas
os hormônios,
os anti-hormônios,
as orações pra Deus,
tudo está bem, confirmaram
tudo é novo,
atestaram,
folha branca pálida, mas forte
dizem ‘guerreira’
não me recordo das armas
xena da modernidade,
deitei esperando a náusea passar
cabelo tá grande, falaram
…
respiro fundo:
tenho certeza que
tempo é minoxidil.
a gaveta das coisas urgentes, de nicola gonzaga
Nicola Gonzaga é natural de Florianópolis e reside na Barra Funda, em São Paulo. Graduada em Letras Português e Mestre em Literatura brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina, tem nas palavras lugar seguro. Por alguns anos, manteve seus textos em gavetas, depois em pastas do Windows, com certa timidez de compartilhá-los, acreditando que escrevia apenas para se desabafar (narrativa clichê de todo escritor). Na pandemia reuniu seus poemas e agora sentiu que era o momento de abrir a gaveta.