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Leia aqui um trecho de "a jornada de tony farkas", de R. G. Werther:

 

Flagro-me agora deixando minha casa, no bairro no qual nasci e fui criado por dezenove anos. Um fino aperto no peito e um nó travado na garganta são tudo o que consigo sentir agora, enquanto arrasto lentamente o pequeno portão enferrujado logo atrás de mim. E quando ouço o som metálico do trinco, quando fecho isso, sinto vontade de chorar, mas eu aguento.

 

Nem imagino quantas foram as vezes em que o atravessei, correndo, chegando da escola, ou simplesmente voltando da rua depois de brincar. Eu passava por ali, suado, eufórico, e me lembro de minha mãe pedindo para que eu fosse direto pro banho. Eu sempre dava um jeito de assistir um pouco de televisão antes, mas isso nunca durava muito.

 

Não sei por que tenho o pressentimento de que talvez esta seja a última vez que verei a minha casa; o telhado de cerâmica riscado de musgo, as pimenteiras quais meu pai tanto gostava de cuidar no minúsculo quintal, que agora está tomado pelo mato. Não vejo as tais pimentas há algum tempo, se é que elas ainda estão lá. Até o carrilhão de vento, pendurado encimado à porta da frente, já perdeu o seu brilho, fosco mesmo. Eu estava com a minha mãe quando ela o comprou numa loja exotérica, no centro da Taquara. Eu adorava as notinhas tintilando com a brisa da noite, embora, há muito, isso não me conforte agora tanto como antes fazia. E esse mato todo?

 

O mato excessivo não era por mero desleixo meu. Meu pai havia me instruído, há muito tempo, a deixar a casa com uma aparência abandonada, com a pintura feia e com a fachada descuidada, só para não chamar muita atenção dos milicianos, porque mesmo já tendo certo tempo que eles não aparecem em suas rondas aleatórias, eu não deveria me atrever a correr o risco. Na época, muito antes do golpe militar, meu pai sabia que tal ato violento iria acontecer num dado momento. Não é que ele tinha razão?

a jornada de tony farkas, de r. g. werther

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  • Foi no final de 2013 quando me vi diante de uma estranha encruzilhada Eu tinha 33 anos, não tinha uma faculdade e estava desempregado. Não havia um propósito ou mesmo uma direção a seguir. E, para piorar um pouco mais, enfrentava uma dolorosa separação. Por fim, estava em depressão.

    Eu já tinha demonstrado interesse em escrever, fosse uma canção ou talvez um poema, mas foi no final de 2013, diante da tela do notebook, com um arquivo novo e totalmente  em branco, foi naquela noite que comecei a criar a minha história, meus personagens e aquilo que faltava na minha vida: um propósito.

    Entre os anos de 2013 e 2016 escrevi toda a Jornada de Tony Farkas, os três livros. E aqui digo sem hesitar que foi o que me salvou. Não sei o que teria sido de mim, caso não tivesse aberto aquele arquivo em branco e permitisse que as minhas dores e frustrações o preenchessem. Pois eu precisava daquilo, e, ao que tudo indicou, a história precisava de mim.

    Costumo dizer que quando o Tony sai de sua casa, deixando tudo para trás, aquilo era o tanto de coragem que me faltava. Logo, o que eu não me sentia apto a fazer na vida real, no mundo real, atribuía ao jovem personagem. E, ainda que fosse uma aventura, uma ficção, aquele mesmo personagem que tinha muito medo do futuro incerto foi me ensinando que eu teria que ser corajoso também, apesar do medo e da incerteza.

    Tony Farkas salvou a minha vida, e devo isso a ele.

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