Leia aqui um trecho de "a mesma jugular", de José Lisboa:
Pensa em erguer o braço, o punho rijo perfurar as ondas, acenando até que lhe encontrem, imerso ali; você buscou em todos os pontos cardeais, não havia terra à vista, mas havia os semblantes antigos, os fantasmas amigos, e um assovio de ressaca no ar… As ondas translúcidas, o mar incolor mesclava-se ao tom cítrico do morango, rochas de gelo resfriaram o teor da bebida, manando-a menos grave. Diogo deitou os olhos ao coquetel, copo plástico genérico, um sumo cristalino de anestesia e desengano. Agarrou o canudo na ponta dos dedos, embaralhando os ingredientes uma vez mais, aqui e acolá, empurrou o gelo ao fundo e duelava contra o tédio.
— Sorria! — uma mão no ombro.
— De novo? — erguera o rosto.
— É bom te ver!
— Eu sei. Eu imagino — o caçula riu, bicando o coquetel.
— Dia sim, dia não…
— Um dia de cada vez.
— É, menos é mais!
Almir empurrou atrás os fios de cabelo enchendo sua testa – um vasto suspiro –, volveu à massa.
Diogo sentiu a gravata apertar o fôlego, enganchou o indicador na gola repuxando a fita grafite amarrada ao pescoço; comprimia os lábios sem saber o que pensar. E talvez, estagnado naqueles minutos, recapitulara a mente humana desde a diáspora africana – ou não; talvez a suposição fosse longe demais…
a mesma jugular, de josé lisboa
José Lisboa nasceu nos idos de 1998, em João Pessoa, Paraíba. Possui dois contos publicados virtualmente pela editora Cyberus. Em 2018, publicou seu primeiro romance literário, A Cidade Alta, independentemente.Em agosto de 2023, retornou ao mercado com A Mesma Jugular através da plataforma Kindle.
Em todas as redes sociais: @lgfbuzzato.