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Leia aqui um trecho de "a noiva de ravel", de L.S. Oliveira:

 

Um herói não é o que idealizamos e, por vezes, pode ser assustador. Assim, olho para meu caminho, traçado como que por acaso para o ódio pelo amor. Apaixonei-me há muitos anos quando era alguém que já não reconheço em mim. Pouco sobrou do que fui, e o que sobrou fez de mim alguém capaz de tudo para oferecer como sacrifício cruento ao meu espírito atormentado os que se tornaram meus inimigos.

            Meu nome é Ravel, e eu era apenas mais um simples rapaz de mais uma bela cidade do interior deste país, chamada Paraíso. Desde que nasci até meus dezoito anos de idade, quando sofri a violência que contarei adiante, morei com meus pais, numa casa simples, mal servida de infraestutura, mas com luz elétrica, algo já bom nos idos da década de 1980, no distante sítio, do qual muitas estradas de barro deveriam ser cruzadas para percorrer da minha casa ao centro da cidade.

            Eu era um rapaz considerado feio por muitos, magro, com olhos fundos, uma olheira intensa de quem, desde muito cedo, apresentou problemas para dormir. Da pele facial densa, extremamente seborreica, brotava toda sorte de acne, algumas vermelhas e grandes, como que furúnculos no rosto. O corpo magro e desproporcional ganhava contornos ainda mais desproporcionais nas vestes sociais e velhas que não condiziam com a minha idade.

            Minha vida era bastante simples: estudar, sem fazer amizades, ter grandes êxitos nas notas escolares e caminhar sozinho pelo campo. Solidão e natureza eram duas coisas que me agradavam. Levava meus livros e, sob a primeira sombra que encontrava, sentava para ler. Assim seguia até o anoitecer.

            Naquela época, a cidade ainda era bastante tranquila e rural, formada por sítios, fazendas e estradas de barro sem iluminação pública. Não existiam escolas particulares, de modo que até os mais abastados estudavam nas duas escolas estaduais que ali existiam.

            Certo dia, quando ainda criança, esbarrei no corredor da escola com uma linda menina, que logo depois descobri chamar-se Beatriz. Havia uma beleza fascinante nela, não só pelo desafio, pois Beatriz era uma menina tida por rica e, por esse status, relacionava-se com poucas pessoas na escola, mas também pela simetria de tudo que nela havia, nos fios sedosos do cabelo, na pele suave, sem máculas, nos olhos brilhantes vestidos de cílios e sobrancelhas como que pelo mais fino tecido. Olhava para Beatriz e parecia ver uma jóia que nunca pereceria. Desejava, desde aquela tenra idade proteger aquela menina, como um tesouro, uma dádiva, uma honraria. Não imaginava que o sofrimento no futuro me faria seu carrasco e que a colocaria na mais pútrefa forma que se poderia.

a noiva de ravel, de l.s. oliveira

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  • L.S. Oliveira é natural de Macuco, interior do Estado do Rio de Janeiro, filho mais novo de Altacir Jardim e Ana Maria de Souza, nascido em 30 de Outubro do ano de 1985. Formado professor no Ensino Normal Médio em 2004. Graduado em Direito em 2014. Pós-graduando em Direito Processual Civil. Funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos de 2006 a 2008 e do Banco do Brasil de 2008 a 2015. Servidor do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro desde 2015. Apaixonado por livros, tenho como prediletos “Capitães da Areia”, de Jorge Amado,  e “Ensaio sobre a Lucidez”, de José Saramago.

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