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Leia aqui um poema de "a paixão, um animal que habita", de Ana Karla Farias:

 

Pensei que se a vida fosse um filme do Kauffman

À maneira de Brilho eterno de uma mente sem lembranças

Eu te apagaria

sem titubear ou pensar duas vezes.

E então, o som da vitrola tocando Wish you were here,

sobreposto ao som da gota do vinho

saindo devagar na taça

seria algo banal para mim.

 

Eu desconheceria algumas ruas de SP

por onde andamos juntos de mãos dadas

E, por isso, eu fabulei com meus botões

que a cidade fosse um pouco minha.

 

Devolveríamos os ingressos do Cine Sesc, Cine Bijou...

Passar pela rua São Carlos do Pinhal

já não me diria nada

não faria qualquer sentido.

 

Eu desaprenderia

o prazer de sentir a fricção da sua barba

a minha perna na sua cabeça,

sua boca no meu mamilo.

 

O céu devolveria o meu pedido mudo

de que, por favor, você goste de mim

como eu desejo você.

Mas aí, restariam

estes malditos poemas

que escrevi reinventando você

e os publiquei em uma antologia

como forma de suspender no tempo

aquilo que não termina.

a paixão, um animal que hiberna, de ana karla farias

R$ 45,00Preço
  • Potiguar, sertaneja, nascida em Caicó/RN lá onde as cercas são de pedra e os corações repletos de amor, jornalista (UERN), autora do livro de contos A árvore dos frutos proibidos (Multifoco), autora do livro À deriva de mim (Penalux), finalista do Prêmio Off Flip na categoria contos, roteirista do curta A flor teimosa da algaroba, mestra e doutoranda em Cinema (Unicamp), pesquisa estudos comparativos entre cinema e literatura sob a perspectiva ensaística, com ênfase para a obra da cineasta Agnès Varda e escritora Clarice Lispector.

    Para dizer de mim brevemente, preciso retomar a minha infância e como nasceu a devoção pela escrita. Como diz Marguerite Duras em Escrever, “a escrita nunca me abandonou” e desde criança, eu sonhava em ser escritora. Mas sempre ouvia os adultos do meu entorno objetarem “mas escritor não é uma profissão”. Então, busquei uma profissão que lidasse diuturnamente com a escrita e me tornei jornalista. Não houve uma influência familiar sobre o meu amor pelos livros e escrita, porém, costumo pensar que a poesia no meu ambiente familiar não estava nas estantes, mas residia nas pessoas.

    Com uma subjetividade não incrustada no eu, mas que se coloca em abertura para os devires e potências do tornar-se, eu tenho me reinventado ao longo das travessias como pesquisadora de cinema, realizadora, ilustradora, mas a escrita sempre segura a minha mão e me convida a dançar.

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