Leia aqui um trecho de "amor e vertigem II", de Brida Cezar:
Alice, seria isto uma trégua?
As noites em que dormiam abraçados, as noites em que não dormiam conversando e contando histórias, as noites em que viajavam um pelo corpo do outro, as noites em que se perdiam nos labirintos infinitos do amor. Tratar-se-ia de uma trégua?
Você sabia que o queria, e queria ainda mais o desejo dele por você, desejo este capaz de lhe acender e lhe fazer queimar por horas intermináveis de gozo e prazer. O suor dele escorria sobre a cama e sobre você, ele gemia, suspirava, entrava e saía com força, como se fosse sempre a última vez que se afundaria em seu útero.
Ele te devorava, te mordia, te apertava, te beijava e no final segurava em tuas mãos para dormir. Ele te ouvia, te olhava, te pegava no colo, te aninhava no peito dele e colocava uma música da Elis Regina para tocar depois de transarem até a exaustão. O cheiro de sexo preenchia o quarto escuro iluminado apenas pelo pavio de uma vela, a vela consumia a si própria, um pouco mais a cada instante, tal como o amor.
amor e vertigem II, de brida cezar
Brida Cezar nasceu no interior do estado do Rio Grande do Sul em 1992 e desde cedo se interessou pelos anacronismos das paisagens, foi assim que se debruçou sobre os antigos e remanescentes traçados da ferrovia em nosso país. Durante a sua pesquisa de doutorado em psicologia social e institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul conheceu Paranapiacaba, antigo vilarejo ferroviário localizado no alto da serra do mar em São Paulo, onde vive atualmente em meio ao patrimônio e a neblina com os seus livros e com os seus cachorros Aura e Cambuci. É autora dos livros Memória em desvio: paisagens em vertigem (Annablume, 2024) e Amor e vertigem (M.inimalismos, 2024).