Leia aqui um trecho de "cruz de ferro", de Everton Ilkiu:
A moça tentava se acalmar — esgueirada atrás daquele balcão de madeira que cheirava a álcool — na improvável esperança de que seu perseguidor não a tivesse visto entrar naquele cômodo escuro. Ela não acreditava no que havia se metido.
Com um forte estrondo a porta se abriu.
Tentando conter o choro, espremida atrás do balcão, ela ouvia os passos do seu perseguidor ecoarem pela sala escura, ao som de uma suave e distante música que adentrava o ambiente, vindo do piso superior.
― Sinto cheiro de vadia! ― Esbravejava o homem.
As lágrimas já lhe desciam sem controle pelo rosto, apesar de não emitir nenhum som de choro. Enquanto, suas mãos trêmulas, tentavam digitar uma mensagem no celular.
Os coturnos pretos do homem já lhe eram visíveis por baixo do balcão que a escondia, foi quando suas esperanças de sair dali com vida se esvaíram por completo.
― Você não tem ideia com quem se meteu! ― Gritava o homem.
Ela já não conseguia mais se controlar, e enquanto começava a chorar compulsivamente, abraçada aos joelhos, agachada contra a parede atrás do balcão, a moça fechou os olhos. Por um instante, veio à sua cabeça a imagem de seus pais, não seus pais como estavam hoje, e sim jovens, como quando ela era apenas uma criança, e tudo era bem diferente.
cruz de ferro, de everton ilkiu
Everton Ilkiu é paulista, tem 39 anos, é formado em Geografia pela Universidade Federal de Viçosa-MG e atua como professor efetivo da rede municipal de Itanhaém, no litoral de São Paulo — onde reside com sua esposa e filha. Como escritor, o autor publicou, em 2020, a aventura infantojuvenil “O Tesouro de Algarve” e, em 2021, o romance “Sol Negro”.


