Leia aqui um poema de "dating: festas e compromissos dolorosos", de Eduardo B Machado:
Queria deixar registrado aqui nessas linhas, algo que tem acontecido comigo. Estou triste e querendo desabafar. Estou pensando em desistir, desde o dia em que pus o pé naquela maldita escola. Umas meninas burguesas, esnobes, fakes em tudo. Ficam medindo a tudo e a todos e não sabem sequer conversar. De onde vem tanto ódio assim? Meninos ocos por dentro que só pensam em ser menos frustrados do que já são nos relacionamentos. Sejam com outros meninos ou com meninas. Uma decadência de valores e de expectativa de vida, onde apenas a pálida referência do sucesso financeiro dos pais é o que importa. Pessoas frias, distantes e vazias que são preenchidas com o que seja externo: viagens, marcas, produtos, símbolos, piercings, celebridades, países, tendências, lojas, comidas, celulares, jogos, bolsas, unhas, posts, likes, músicas, tatuagens, canais, programas de tv, times, relógios, nomes, rostos, celulares, restos e gestos. Sei que um dia eu desejei ter tudo isso, de poder ser algo parecido, mas hoje percebo a fragilidade. Oh, o quanto fui fútil e superficial. Eu deveria prever que essas coisas não trazem a felicidade. O dinheiro não traz a paz, apenas competição e ganância. Um querendo aparentar ser mais rico do que o outro. Ninguém respeita uma fila sequer. Nenhum “bom dia”. Pensam sempre em ser pessoas influentes com muitos seguidores em sua página. Chamam de amigos pessoas virtuais distantes. Acham que sabem tudo e que podem tudo. Esperam apenas os dezoito anos como sendo uma barreira para a felicidade de papel que escrevem. Como pude ser tão idiota ao ponto de querer isso para mim. Ainda bem que joguei minhas bijuterias fora. Não quero mais o dourado falso. Nem o perfume temporário que pode irritar com uma mistura de interesses. Chega! Prefiro ser eu mesma. Meu cabelo na cor natural, minha pele limpa depois de lavada. Minhas unhas aparadas e sem esmaltes de falsidade. Ganho meu tempo e minha saúde mental. Não preciso dos sonhos dos outros ou onde quer que eles me levem. Prefiro o meu futuro cheio de felicidade do que uma bolsa cara cheia de produtos que não vão me fazer melhor. Não quero carros grandes, vou morar por aqui mesmo. Vou andar a pé e ver a vida pelas ruas. Não quero a avenida do luxo. Gosto do meu corpo e das minhas formas. Não vou querer colocar silicone ou malhar até ficar deformada. Isso para mim não é saúde. Parece doença! Não vou também comer até entupir, querendo mais do que o corpo precisa. Querendo ter tudo ao mesmo tempo. Prefiro mil vezes a fome, a ter que arrotar mal estar por ter exagerado. Meninas gordas são infelizes, melhor mesmo é ser magra e equilibrada como eu. Assim não gasto dinheiro com doces, chocolates e tortas. Credo! Mas o que me assusta mesmo é a solidão de estar cercada por gente falsa. Por meninas que pensam em cumprimentar nas vésperas de atividades. Em meninos que se sentam perto de você e puxam conversa por apostas. Onde está você Thiago!? Por que não veio me visitar na semana passada? Estou precisando de você aqui para me ajudar com essas meninas loucas e com esses meninos idiotas! Tenho saudade da nossa escola e de como a vida parecia fácil Estou cansada de chorar e não acho que vou conseguir passar de ano. Será que desistir é uma opção? Abandonar essa droga de escola e voltar para onde eu era feliz, eu acho… Mesmo que eu fique uma série atrás, acho que vou ganhar mais do que ficando aqui. Mas tem minha mãe. Coitada, ela está se esforçando tanto! Me deu cadernos, livros e uma mochila linda, mas mal sabe ela o peso que tenho carregado com isso! Estou chegando ao meu limite. Quero ficar calada pelo menos uns três dias para ver se essas vozes em minha cabeça se calam também! Quero o silêncio dentro de mim, muito mais do que o escuro em volta. Vou descansar. vou dormir mais um pouco, apesar do dia lá fora. Acho que estou com febre. Está doendo em algum lugar, eu sei. Depois que acordar vou tomar remédio. Mas Thiago. Me ligue ainda hoje. Vou ficar feliz em ouvir a sua voz. Quem sabe enquanto tento arrumar meu quarto que minha mãe mandou na quarta-feira. Quem sabe durante uma música legal, o telefone toque bem na hora do refrão. Quero meu passado de volta, já que a bosta do futuro está foda.
dating: festas e compromissos dolorosos, de eduardo b machado
Sr. Machado, Eduardo B. (MsC) nasceu no Brasil místico, e carrega seus medos desde mil novecentos e setenta. Consultor de negócios, professor universitário e pesquisador, depois de muitos livros técnicos de negócios, o lado sombrio talvez tenha de chamá-lo para escrever sobre terror e romances góticos.
Após vinte e quatro anos de catolicismo, iniciou sua experiência com os cultos espirituais e o kardecismo. A maior parte de seus conteúdos é a história real do outro lado da vida, de onde ele costuma receber inspiração.
Ele vive sozinho e usa o sofrimento e a dor de outrem para continuar sua maldição e explorar as sensações não ditas e as emoções sombrias que nos cercam todos os dias, ou melhor, todas as noites.

