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Leia aqui um trecho de "destinatário ausente", de Rodrigo Ortiz Vinholo:

 

Jovem,

 

Esta é provavelmente a carta mais importante que você irá receber em sua vida. Ouso dizer, sem qualquer falsa modéstia, que esta carta mudará sua vida, por isso eu preciso que você preste atenção.

 

Quando eu tinha a sua idade, eu recebi esta mesma carta e ela me tornou quem sou hoje, por isso eu preciso enviá-la a você, para que tudo dê certo.

 

A vida não é tão simples quanto você esperava. Nada é tão rígido ou literal quanto parece. Você precisa saber disso para continuar. Daqui para frente, isso é a lição básica que jamais poderá esquecer. As regras que te disseram que eram reais e imutáveis vão se mostrar falsas, flexíveis e simplórias.

 

Ao mesmo tempo, as coisas podem ser bem rígidas. Quando você descobre a regra certa, você verá que não tem opção a não ser agir. Não se torna mais uma opção, quando é a sua sobrevivência e a sua própria existência que está em jogo.

Quando eu tinha sua idade e recebi essa carta, eu vi que eu precisaria tomar as rédeas de minha vida, ou não chegaria a lugar algum e as consequências seriam desastrosas. Eu confio que você fará o mesmo. Eu confio que enxergará que, quando chega a hora de agir, não temos como voltar atrás, não temos como deixar de escolher.

Daqui a exatos vinte anos, você terá que enviar esta carta para você mesmo no passado. Não posso te dizer como você fará isso, mas você terá que fazer, pelo simples motivo que você está recebendo agora, e não receber esta carta pode significar o seu fim. Algo já aconteceu no futuro para que isto esteja aqui, então você precisa preencher as condições exatas para que essa viagem no tempo seja viável e para que você escreva estas próprias palavras com suas próprias mãos.

 

Junto desta carta está algo que parece ser uma cópia um pouco desgastada. Na prática, ela é a mesma carta, mas é a versão que eu recebi quando era você. Ela é o que ela se tornará quando esta carta que você tem em mãos envelhecer, do mesmo modo que você mudará quando envelhecer.

 

Como eu a enviei junto desta carta que você tem em mãos, você terá que garantir que a versão nova dure até que possa enviá-la para você mesmo no passado. Faça o que quiser com a carta antiga. Quem estou tentando enganar? Te conhecendo, você a guardará, como eu guardei a minha.

 

Não será fácil, mas o fato de que não desapareci e o fato de que fui capaz de enviar esta carta ao passado me diz que você conseguirá fazer manter a cópia e enviar a nova versão, que escreverá, como escrevo agora, sem esforço.

 

Já não sei dizer muito sobre a natureza das coisas, e deixo como exercício para também ocupar a sua mente, do mesmo modo que ocupou a minha, esta coleção de perguntas: qual carta era a original? Quem de nós escreveu o primeiro texto? Esse texto que escrevo agora foi escrito assim porque memorizei a carta após tanto admirá-la, ou ele é uma criação única, porém idêntica?

 

Com amor,

Você

destinatário ausente, de rodrigo ortiz vinholo

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  • Publicitário, jornalista, professor e escritor, Rodrigo Ortiz Vinholo mora em São Paulo/SP. É autor de diversas obras, sendo as mais recentes “Viagens oníricas” (2024, Fuinha), “Compêndio poético da fauna sentimental humana” (2024, Gataria), “Pequeno guia de sobrevivência on-line para o século XXI” (2024, independente), “Imperador na janela” (2024, Explorações), “Na mansão morava uma mulher sem cabeça” (2024, Lendari), "Havia uma floresta no terreno baldio" (2025, Delirium) e “Haicais vazios” (2025, Toma Aí Um Poema). Vencedor do Prêmio ABERST, Troféu HQ MIX, Prêmio Ecos da Literatura e alguns outros, já participou de mais de 400 coletâneas de contos, poesias e quadrinhos.

    Com poucos números, mas muitas palavras, sua escrita já atravessou páginas e corações anônimos, confirmando que literatura não é sobre métricas, mas sobre encontros. Entre a Iara sensível e a Kimi mais fria, sua obra revela o equilíbrio entre caos e calmaria, intensidade e ternura.

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