Leia aqui um trecho de "do amor e outras dúvidas", de Gabriela Kopinits dos Santos:
Os gemidos dele se extinguiram após o gozo final. Na cama, os lençóis amassados, o forte cheiro de sexo no ar, os corpos suados — tudo indicava o ato que acabara de acontecer. Ele ressonava, tranquilo e exausto. Debaixo dele, ela mirava o teto, olhar fixo, pensativo.
Será que seria sempre assim? — ela se perguntava. As doces preliminares, os beijos, os abraços, a excitação fazendo seu corpo pulsar, antecipando o prazer que acreditava estar por vir.
Ele a deitava na cama, descia por entre suas pernas até o templo de Gaia, penetrando com desejo entre as dobras femininas, quentes de expectativa. Ela se contorcia, entregue.
Cinco minutos depois, o corpo dele estremecia no clímax, e os gemidos finais encerravam o ritual.
E só.
Estava feito.
Restava-lhe o vazio. O corpo preparado para o prazer que não vinha, a frustração já conhecida. O abandono. A ausência de algo que ela não sabia nomear, mas sentia.
Entrava relação, saia relação e tudo se repetia.
E ela sempre esperava que, da próxima vez, seria diferente. Seria melhor. Seria amada.
Em vão.
Lera nos livros que o prazer feminino podia ser mais sutil, mais profundo, mais complexo. Um mistério. Mas que, sim, podia ser descoberto. Com entrega, com curiosidade, com o toque certo.
Mas até então, sua entrada naquele mágico e sensual Templo de Eros, guiada pelas mãos de um homem, ainda lhe parecia proibida.
Soltou um suspiro longo. Quantas vezes já jurara a si mesma que não se deixaria mais tocar enquanto não sentisse amor de verdade? Quantas promessas sussurradas a tetos brancos, espelhados e paredes de motel?
No início, a expectativa, o encantamento do novo: o cheiro, o gosto, o toque. Depois, a rotina das tentativas frustradas.
Uma lágrima silenciosa escorreu por seu rosto.
Ele finalmente acordou.
Ela secou o rosto com discrição.
Ele não notou. A maioria não notava.
Mas o corpo dele sim: já dava sinais de outro impulso. Mais uma vez, o desejo o conduzia de volta para dentro dela.
Ela sorriu, triste. E mesmo assim, a esperança veio. Seu corpo reagia, úmido de expectativa.
Os movimentos recomeçaram. A penetração, o contato, o calor. A excitação. As mãos, a boca, os toques.
Ela arfava. Quem sabe agora? Talvez...
Mas os gemidos aumentavam — os dele. O ritmo acelerava — por ele. E ela soube. Novamente, era o prazer dele que se aproximava. O dela ainda era promessa.
“Desisto...”
Ele não ouviu. O clímax o tomou mais uma vez. Ele desabou sobre ela.
“Eu te amo,” disse, ainda ofegante.
Ela sorriu.
“Eu também...” sussurrou automaticamente, quase sem voz.
Saiu de debaixo dele. Sentou-se na cama. Observou-o: o corpo bonito, o rosto tranquilo, o sexo agora adormecido. Um homem belo, sem dúvida.
Ela sacudiu a cabeça levemente. “Adeus.”
Vestiu o vestido de algodão. A calcinha, não.
Deixou-a largada no chão — como quem abandona uma mordaça. Algo que a impedia de ser livre. De ser quem era.
Abriu a porta. Olhou uma última vez para o homem que jamais voltaria a ver. E saiu.
Do lado de fora, ela a esperava. Sorridente. Cúmplice. Tão feminina quanto ela.
A mão de unhas vermelhas segurava a porta do quarto vizinho.
Ela entrou. A porta se fechou atrás das duas. As bocas se buscaram com urgência. Os corpos se colaram, desejosos.
As duas se olharam como só os amantes se olham.
Ela a empurrou para a cama. O vestido caiu no chão.
As coxas foram afastadas com firmeza. A excitação já era visível.
Veio a boca quente. A língua curiosa, segura, brincando com os limites do prazer.
Ela se contorcia, tomada de desejo.
Pararam por um instante. Os olhos se encontraram. O gozo vinha vindo, e elas sabiam.
A língua retomou seu caminho. Um dedo deslizou, encontrando o ponto exato. Um gemido escapou.
“Ah... meu Deus...”
Ela sorriu.
Ela gozou.
No quarto ao lado, o homem dormia, alheio ao que se passava.
Ou melhor: ao que se revelava.
Porque a mulher que agora descobria os segredos do prazer — era sua mulher.
Elas riram, deliciadas.
E o jogo só estava começando...
do amor e outras dúvidas, de gabriela kopinits dos santos
Gabriela Kopinits dos Santos é professora, tradutora, escritora e contadora de estórias.
Dizem que herdou a alma cigana da Hungria, terra do avô — talvez por isso tenha feito da vida uma travessia entre línguas, culturas e paisagens, morando em lugares como Londres, Paris, Barcelona e Cusco.Desde 2001, entrega sua voz e sua presença à arte da contação de estórias, atuando como voluntária em diversos projetos sociais, trabalho que lhe rendeu reconhecimentos públicos, como a Medalha de Honra ao Mérito “Jornalista José Carlos Florêncio” (Câmara Municipal de Caruaru), um voto de aplauso da Assembleia Legislativa de Pernambuco e uma homenagem da Câmara Municipal do Recife.
É autora de livros infantis, como Era uma vez... estórias de uma contadora de estórias (Cepe Editora) e Alice e a bolha de sabão: uma aventura no Bosque Encantado (Amazon Kindle). Mantém outros títulos em produção, entre eles O boné novo do Samuel, Um amor para Dona Girafa, A menina que espirrava gatos, O bufão do rei – A fantástica história de Giácomo Basile, O milagre de São João e A boca maldita que Frei Damião calou e outros contos de malassombro (em preparação).
Gabriela integra a Red Internacional de Cuentacuentos / International Storytelling Network, levando suas narrativas em português, espanhol e inglês a festivais, espetáculos e palestras em países como Argentina, Peru, Espanha, Holanda e Canadá.
Suas estórias também habitam o podcast Estórias da Cigana, disponível gratuitamente no Spotify e em outras plataformas de streaming.
Entre a palavra dita e a palavra escrita, Gabriela segue traçando caminhos, reinventando memórias e alimentando a delicada arte de contar e escutar estórias.