Leia aqui um trecho de "do outro lado do espectro, de Dayane Okipney:
Existem dias claros, nos quais nuvens escuras aparecem de repente. Nesses dias fecho os olhos e tento ver apenas os raios de sol que dentro de mim habitam. Pode ser fuga, fantasia, mas gosto de ver a luz tênue que guardo em minha mente e que me faz esquecer por alguns instantes que lá fora tudo é penumbra. Só que às vezes, a escuridão está mesmo é dentro dos meus pensamentos.
Abro os olhos, continua um breu. Volto a fechá-los, o breu é aqui. Forço para que uma centelha brilhe dentro da minha cabeça e é tanta força que ela começa a doer e quando sentimos dor o tempo não passa.
Aparecem coisas em formas confusas, sombras, esboços... Faço ainda mais força para tentar discerni-las. Vezes isso faz a dor passar, vezes só faz doer mais. E pode estar a maior claridade no externo: ela não tem o poder de iluminar aqui.
Não sei se permaneço de olhos fechados ou se os mantenho abertos. Não sei qual escuridão é pior. Mas sei que com os olhos sempre fechados, não verei quando o sol raiar e perderei o brilho que a vida oferece. Talvez não valha a pena querer iluminar a vida, mas sim, deixar-se ser iluminado por ela.
E nem o dia e nem a noite duram para sempre.
do outro lado do espectro, de dayane okipney
Dayane Okipney (1989) é natural de Suzano, mas cresceu e vive na periferia de São Paulo. Primeira mulher a se formar em sua família, é educadora, artista visual, arteterapeuta e escritora. Aos 31 anos, recebeu o diagnóstico de Autismo nível 1 de suporte, seguido de TDAH e Altas Habilidades. Sua trajetória é repleta de simbologia Junguiana, descobertas espirituais, literatura e arte.