Leia aqui um poema de "fim do mundo", de Leonardo Brandão:
PRESSA
Pela pressa descomunal de sentir o bem
Esquecer do mal,
Deixando o tempo cortar a pele
Enfraquecer o corpo - desfazer-me todo
Te esquecer com o que eu chamo de ausência
Sufocando minha poesia intensa
Até que me mate por fora - por dentro
Depois de apontar-me tantos dedos,
E brincar com os meus medos como se fossem segredos
Prontos a serem gritados aos quatro ventos
Pra que todos soubessem do que eu sou feito
Derramando-me quebrado, incompleto, me desmanchando diante do teu templo
De tantos e tantos que confiei
Talvez, a tua mentira, foi a que eu mais abracei
E me cortou
Revolução,
Ao sentir o mundo girar de pressa,
Eu correndo me aventurando pelo mundo,
Romântico e sentimental, com todo o verde fazendo minha cabeça
Eu sorrindo do teu lado antes que me esqueça -
Até que eu me desague de novo entre os bares e o asfalto sujo
Do bairro que você tomou de mim - me quebrando até me tornar átomo,
A menor parte do que fui nos dias cinzas do teu lado
Eu sei,
Quem diria que de todos os pedaços abandonados por mim
Seriam feitos tantos eus até que eu pudesse ser meu de volta,
Até que se perdesse as digitais dos teus dedos sujos de sangue,
De outros amantes,
De mim
E eu agora tenho marcas pelo corpo inteiro
Noites de um verão sem medo,
Abraçando mais um inverno solitário,
Encontrando-me de novo em espelhos, mudando de marca de cigarro,
Me sentindo novo mesmo estragado, descompleto, magoado,
Novos escombros, novos prédios se levantando, arranha-céus no lugar de colégios,
E o mundo agora é menor do que parece -
E a gente se esquece... me perde.
fim do mundo, de leonardo brandão
Leonardo Brandão nasceu em 1995, em Santo André, coração pulsante da Grande São Paulo. Carrega na pele e nos versos a essência paulistana: feito das noites cintilantes sob a garoa, dos becos iluminados por faróis e da poesia que se arrasta pelas calçadas da metrópole. É filho da cidade e das madrugadas — onde vinho barato, música alta e silêncio profundo convivem na mesma esquina.
Poeta de alma crua, sua escrita nasce da intensidade das experiências, dos afetos partidos e da reconstrução constante. Traz no sangue a herança inquieta da Geração Beat, a quem presta profunda devoção. Allen Ginsberg, Jack Kerouac e a urgência de escrever como quem vive (ou morre) moldaram sua voz poética, que trafega entre o sagrado e o profano, o urbano e o íntimo, o colapso e o renascimento.
Fim do Mundo é sua primeira obra publicada — um diário fragmentado de quem se viu entre ruínas e decidiu, ainda assim, continuar existindo.

