Leia aqui um poema de "fruto do teu ventre", de Amanda Cardinalli:
Espelhos
Teus olhos me fitam e me veem filha
Eu olho teus olhos e te vejo mãe
Mas quando vejo meus olhos no espelho
Me vejo menos filha
Aos poucos me torno mãe
Teus olhos me fitam: filha
Porque sob seus olhos é assim que sou
Por que quando me olho não vejo
Nem a sombra do que passou?
Nossos olhares se perdem
Em um caminho que você já dominou
Quero segurar sua mão, mas vejo
A pequena mão que meu dedo entrelaçou
Te busco, presa ao futuro incerto
Carregando o filho que gero
Seus olhos não podem guiar a filha
Porque filha já não sou
Te vejo ao longe, vitoriosa
Pelo caminho que você já andou
Caminho, assustada e curiosa
Pelas trilhas que você trilhou
Chamo seu nome: “mãe!”
Minha boca pronuncia “filho”
Como posso chamar pela mãe
Se sou eu quem carrego o filho?
Sua sombra me invade, e sei
Que ela sempre me guiará
Ainda que a vida faça dela mãe
Sua filha sempre será
Continuo, humilde, seu legado
Incerta do que virá
A única certeza que tenho nesse reinado
É que em você ele será inspirado
fruto do teu ventre, de amanda cardinalli
Formada em Letras e pós-graduada em Língua Inglesa e Literaturas pela Universidade Mackenzie, Amanda Cardinalli atua como professora há 14 anos e cultiva, desde a juventude, o hábito de escrever como forma de escuta e expressão. A maternidade reacende nela o desejo antigo de partilhar sua escrita com o mundo — e é a partir desse lugar de amor e transbordamento que nasce este livro.

