Leia aqui um poema de "instantinho", de Waleska Borges:
Instantinho
I
Pressinto a sua chegada, os gestos doces, ígneos.
Talvez já tenha te visto em uma fotografia.
Talvez já tenha te visto percorrer a montanha sagrada.
II
Os fios dessa revoada são claros onde a superfície morde o
fundo para emergir a carne outrora ignorada.
Relevos rasgados um a um revelam-me o
leite aveludado, o púbis desmaiado.
A pequena morte não é coisa menor. Pelo contrário.
III
Costeiro à solidão, a leitura dos sonetos, o vento,
a encruzilhada do erotismo (amplas alegrias sobre os joelhos?).
Devoramo-nos em lume de lobo a concha tecida de
demoras quando não estamos.
IV
Veja como são minúsculos esse seixos.
Olha-me devagar, perceba como agarro a eloquência de um prelúdio.
V
Observe bem.
Um dia demasiado quente em tua pele prolonga-se como
o instantinho de Emily Dickinson
nesse órgão
em torno do qual a
papila gira torturada.
instantinho, de waleska borges
Waleska Borges Cheibub, poeta estreante, reside no Rio de Janeiro. É psicanalista, graduada em psicologia pela UFRJ, mestre em Pesquisa e Clínica em Psicanálise - PGPSA/UERJ com a dissertação “O tratamento atual do mal-estar na cultura: toxicomania e segregação” e artista visual.