Leia aqui um poema de "lâmina", de Bella Nara:
eu fiquei calada
quando eu tirei o pregador do varal
e coloquei no nariz
quando fui pra festa me divertir
e beijei quem não quis
quando eu chorei no banheiro
quando odiei me olhar no espelho
quando usei uma cinta
que feriu minha virilha
e transei quando ele
não queria usar camisinha
você me interrompeu e eu me calei
depois me bateu e eu silenciei
eu fiquei calada
eu devia ter falado, eu sei
mas eu fui silenciada
lâmina, de bella nara
Bella Nara ou Isabella Nara Costa Alves. Cearense, filhe de uma professora universitária negra e de um petroleiro guei, nasceu e cresceu no meio da greve da classe trabalhadora.
Mãe-solo, bissexual e doutoranda em educação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e bolsista da Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia (FACEPE). Integrante do grupo de pesquisa em educação, raça, gênero e sexualidades (GEPERGES/UFRPE) e do grupo de pesquisa Discurso, subjetividade e educação (UFPE).
Escreveu o livro de poemas "Crua" (Editora Libertinagem). Seus pronomes são ela/elu.