Leia aqui um poema de "légua e meia", de Guilherme Nélio:
Há tempo...s
Os filhos do fogo
Gritam
E se derretem na beira
Da cratera
Sobre a terra são fadados a andar
Na lava
Sobre o sangue de seus pés
Esfolados de andar
Continuam
E sob o sangue de seus corpos quando caem
Deitados sob o ar
No qual estão mergulhados sem perceber
Nem sequer percebem no que estão mergulhados
Sob qual matéria estão envolvidos
Nem porque fazem o que fazem
Engolidos e cercados por todos os lados
De falsa politica
Destroem sua própria polis
Como bestas
Bravejam uns contra os outros porque alguém outro
Lhes disseram que são “de bem”
Contra os que então inexoravelmente são “do mal”
Bastando para isso não terem características estritamente iguais às de seu suposto grupo
Mas estes já se esqueceram da chama da qual foram filhos
E seus pés nunca mais sangraram
Estão secos
Pouco tem das terminações nervosas que os lembrariam
das feridas
E que os lembrariam que elas também doem em seus supostos “inimigos”
Como numa piada de mal gosto imaginam que a vida seja
Hétero isso, Homo aquilo, Machi aquilo, Fême isso
Tiros, muros, segregações,
POSSE
A terra toda
Inteira em volta e para muito além da cratera se treme rindo em ironia
“IDIOTAS” continuam a gemer os ventos, chuvas,
geleiras,
a força inominável que a
Tudo cria e mói
Pífios mínimos, nada se é possuível
Quando Gaia avança
E quando Cronos anda
Quetzalcóatl se sacode e as caravelas se tornam em gravetos
Vulcanus arrota e já não há Pompéia
Deus se estremece ao ver o que fazem de seu nome
A morte, a matança, em e com seu nome
Como se essas armas de pólvora fossem mais fortes que a proteção e a mensagem dele
Em qual esquina universal qualquer raio gama pode vaporiza-los
Uma onda eletromagnética do próprio sol
Polô boceja e são varridos os concretos, as antenas os muros
suas invenções de brinquedo e pó
Há porem, perdido, pulsando no entrehalo do ar, o coração que os tornariam um
Entre si
E com os Deuses
A alteridade, a fraternidade com todos incondicionalmente
De quando finalmente se emanciparão da besta pré- histórica
Para isso a partilha incondicional e universal
Se assim se lembrarem, e verem as pegadas de sangue de tantos semelhantes junto as suas
Se juntos, vão mais longe,
E vislumbrar em fim o futuro COM a natureza da qual
são apenas uma manifestação
E junto com todos seus semelhantes de sangue, pois que todos têm sangue vermelho
Construir algo que sobreviva junto aos deuses
E que se sustente.
légua e meia, de guilherme nélio
Guilherme Nélio, formado em direção de arte pela Universidade Federal de Goiás, tem 32 anos, escreve a 8 anos, tem um livro de poesias publicado, além de participações em antologias coletivas, é performer, poeta e acredita no poder transformador do amor e da arte, principalmente a partir do encontro dos dois. Nascido em Goiatuba, interior de Goiás, mora em Goiânia a 12 anos, valoriza as raízes de seu lugar e povo, suas tradições mas também a lida com as questões contemporâneas, do futuro, com olhar universal e humano.