Leia aqui um trecho de "nada de novo", de Santos Ferreira:
Às vezes me questiono sobre qual é o sentido da vida.
Estamos predestinados, desde que saímos do ventre, à forma correta de viver. Até os três anos temos dificuldade de fazer tarefas simples, como ir ao banheiro ou escovar os dentes sozinhos. Nosso guardião é responsável por nos ensinar o básico, como a moral do mundo, ler e escrever. Com quatro anos entramos no pré-escolar e, se tivermos sorte de não termos que mudar de cidade ou escola, isso definirá nosso ciclo social por um longo tempo. Depois, lá pelos quinze anos, você descobre o vestibular e começa a ter suas primeiras paixonites da escola ou internet. Estudos e mais estudos, então, se você for dedicado ou tiver um pouco de sorte, entrará na faculdade. Quatro anos se você for um bom aluno, alguns anos a mais se você tiver condições de se sustentar — ou seus pais serem ricos o suficiente para te bancarem por mais tempo. Diploma, emprego, aluguel, casamento, filhos, nessa ordem. Assim, eles consideram que você venceu na vida.
Alguém desenhou esse padrão e definiu que isso é o máximo que devemos alcançar, ainda mais se você é um jovem brasileiro. O que não te contam, é que seu trabalho consome toda sua hora produtiva. Eles não te consideram como outro ser humano, apenas alguém que deve receber ordens e ouvir sem questionar. Somos tratados como massa de manobra, sem sermos perguntados se estamos felizes ou não. Algumas pessoas acreditam que quando nos aposentarmos podemos fazer o que quisermos. Discordo, você estará velho e sem energia, ainda mais em um Brasil onde sequer sabemos se estaremos vivos no dia da nossa aposentadoria. Você pode ter sorte de chegar lá, mas todo o seu dinheiro do INSS irá para remédios, pois essas jornadas de trabalho desumanas acabam com sua saúde e disposição. Você pode acreditar que trabalhar com o que você gosta vai te fazer um adulto realizado, que tudo será menos pior. Já eu, considero isso uma bela mentira.
Só trabalhamos porque precisamos de dinheiro, precisamos de dinheiro para morar e comer, necessitamos de comer para sobreviver.
Novamente pergunto, qual o sentido da vida? Isso é ser vitorioso? Quem desenhou este padrão massante, que concordamos e seguimos até hoje? Existe uma única verdade: somos reféns de uma rotina desumana que vai nos matar algum dia. Não tem lado bonito na vida, o mundo é cinzento e sem cor, em que somos obrigados a seguir o padrão desde que nos conhecemos por gente.
nada de novo, de santos ferreira
Me chamo Santos Ferreira, sou natural de Santos Dumont, Minas Gerais — terra do pai da aviação. Durante a juventude, vivi em diferentes cidades do interior mineiro, acompanhando as transferências de trabalho do meu pai, até me estabelecer em São João del Rei, onde atualmente curso Letras na UFSJ.
A paixão pela literatura vem de berço: meus pais me contavam histórias todas as noites antes de dormir, o que despertou em mim o desejo de criar as minhas próprias narrativas. Escrevo como forma de observar, refletir e criticar o mundo — pessoas, acontecimentos e os sistemas que nos cercam.
Sou viciado em esportes, café, terror, livros e música. E, como tantos outros, sou apenas um sonhador.