Leia aqui um trecho de "o conto da ruptura", de Izadora Silva Pimenta:
Foi aqui em que eu aprendi o significado da palavra que eu repito a você: ruptura. Ruptura é essa separação brusca. É uma coisa que acontece e, de repente, temos dois lados opostos com um buraco no meio. Mas a nossa ruptura não foi cruel: nós decidimos viver no buraco por um tempo. Se aquele espaço foi criado, ele tinha de ser habitado também. Porque nós tínhamos o desejo mútuo de seguir a ordem natural das coisas, por mais que a gente soubesse que esse tipo de ruptura precisaria de um conserto para não doer. Mas a gente também pensa assim, que não existe o que é capaz e o que é incapaz no mundo, que mesmo as coisas partidas podem ter a sua função por um momento, que não precisaríamos correr com aquilo. E assim a nossa ruptura vivia forte, e assim nós vivíamos no esconderijo do Altíssimo. No abraço depois de sentir a condição máxima de ser mulher contigo, a de possuir a parte de seu corpo pulsante aprisionada dentro de mim, eu não temia nada. Você era refúgio, fortaleza, salvação. A ruptura era o lugar mais seguro na Terra e fazia sentido - dois corpos quebrados vivendo no caos, no que restou de um acidente, no que ainda resistia entre as duas partes que se repeliam. Esse era nosso lugar; fora da ordem do tempo, fora das coisas que estão ao nosso controle, fora da precisão que eu e você nos apoiamos para viver as nossas vidas enquanto estávamos ali, perdidos na representação clara daquilo que não funciona. Nós éramos parte de lugar nenhum e estava tudo bem.
o conto da ruptura, de izadora silva pimenta
Nasci em 1992, em Campinas, São Paulo. Desde 2019, vivo em Darmstadt, na Alemanha. Minha língua, minha cultura e as particularidades que delas emanam estão sempre presentes nos meus pensamentos e nos meus escritos. Elementos que despertam o lado criativo e imaginativo de olhar para o cotidiano me constituem.

