Leia aqui um poema de "o eu e o outro", de Jonathan Alvarenga:
O Eu e o Outro
O Jornal Nacional não noticiou minha morte
Os sinos não tocaram
O povo não se abalou
Ao fim nada mudou
A vida deu seu andamento
Seguiu em frente
O dia continuou a ter sol e a noite lua e estrelas
Que mais queria eu?
Talvez ser memória?
Mas a vida seguiu seu fluxo
E como poderia não seguir?
Depois de tantas idas porque logo a minha não seria mais uma dentre aquelas que se vão ao longo da história?
Sem lembrança
Sem memória
Sem luxo
Sem fama
Sem mídia
Sem dinheiro
Sem ascenção
Sem direito
Sem vida
Na desgraça da lama
No inferno do concreto
Do real
Do número
Do eu perante o eu
Do eu diante do outro
E do todos diante do eles
Do que é deles
E lá se foi mais um
E o que queria eu?
Que mais um fosse todos e que a solidariedade habitasse o duro concreto de carne e osso do qual todos se identificam em um? Não posso cobrar daquele a ação ou a emoção que não tive quando fui outro
Não se trata de dois lados de uma só moeda
Mas de uma moeda sem lado algum
Através do espelho toco a mim mesmo
Além de tantos outros
E não toco
E não vejo
E não sinto
E não penso
A esquizofrenia do eu que nomeio por eles não me permite ser eu outro eles ou qualquer um que seja
O espelho se solidifica e voltamos ao início
O Jornal Nacional não noticiou minha ida
E o que queria eu?
Ser vida enquanto sou morte?
Sentir enquanto sou morte?
Ser feliz enquanto sou morte?
Ser outro enquanto sou eu?
E o amor? Cadê?
o eu e o outro, de jonathan alvarenga
Me chamo Jonathan Alvarenga, sou Doutorando, Mestre e Professor em Filosofia. também sou Capoeirista e Poeta. Nasci em Campo Belo, Minas Gerais, mas já morei em outras cidades e estados brasileiros. Atualmente vivo em Cuiabá, Mato Grosso, lugar em que tenho descoberto uma nova face do Brasil, vivenciando a rica cultura existente na baixada cuiabana e experimentando um pouco de sua vasta diversidade culinária. Espero que minha poesia toque contextos sensíveis de nosso cotidiano e de minha experimentação do Brasil, sem confabulações ou romantismos, sou um escritor daquilo que me aparece, sem ocultar as contradições e as dificuldades do que está aí.