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Leia aqui um trecho de "o peso das pequenas coisas", de Amanda Michaelides:

 

Minhas mãos tremiam de ansiedade. Nunca fui uma pessoa de guardar segredos, e aquilo estava me consumindo. Foi na noite anterior que coloquei tudo a perder. O segredo me devorava por dentro. Sentia que tinha cometido o maior crime da história. Desliguei o telefone, aos prantos, e entrei na cozinha das Sánchez. Me servi de um copo de vinho e me sentei no chão da cozinha suja, soluçando e quase engasgando com o amargo da bebida. O efeito do álcool subiu à minha cabeça, e contei tudo às meninas e a Matteo, que cozinhavam para a despedida de Cecília. Eu não confiava naquelas pessoas; elas ainda eram desconhecidas. Mas eu não aguentava mais o peso que carregava.

Quando terminei minha confissão, um silêncio tomou conta do ambiente, como se o ar tivesse ficado pesado demais para ser respirado. Um elefante branco foi se estacionando no meio da Casa. Eles me olharam, boquiabertos, sem acreditar no que eu havia feito. Os olhares eram duros, inquisidores. Júlia (leia-se Rúlia), que mexia a sangria com uma colher de pau, parou por um instante, seus lábios se comprimindo num traço tenso.

"No, tête¹. Tienes que contar a Valentina esto". Júlia me olhava com decepção enquanto preparava a sangria que beberíamos naquela noite. "Ahora todas sabemos o que você fez, e ela vai descobrir também. É melhor que seja por você". Sua voz soou mais baixa que o normal, como se a decepção drenasse sua energia.

"Sí. Mas conte amanhã, num bom momento. Agora já temos muitas emoções acontecendo com Cecília indo embora". Era Giorgia que falava agora, enquanto cortava as cebolas.

"Não acredito, amiga. Che. Justo com o Rafael? Che. No tinha alguém menos idiota?" Era Vittoria, gritando para mim — num tom até divertido — enquanto fumava seu cigarro à janela.

Matteo largou o prato que enxugava e cruzou os braços, me analisando com aqueles olhos gentis, mas cheios de preocupação.

"Pelo menos foi bom, amiga?" O tom era de leveza, mas a tensão ainda pairava. O ambiente era claustrofóbico. Cada pessoa reagia de uma forma, mas ninguém parecia indiferente. Balancei a cabeça em sinal de afirmação. "O que foi feito, foi feito. Está tudo bem".

o peso das pequenas coisas, de amanda michaelides

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  • Amanda Michaelides é natural do noroeste paulista e vive atualmente em Curitiba, onde finaliza a graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná.
    Gosta de experimentar com a memória, registrando o cotidiano por meio da escrita e da fotografia.
    O Peso das Pequenas Coisas é seu romance de estreia.

    Para entrar em contato, escreva para @escreva_amanda (Instagram) ou pelo e-mail: escreva.amanda@gmail.com.

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