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Leia aqui um poema de "oráculo", de Mia Sodré:

 

Ode ao realismo

 

estou muito cansada para

escrever um poema bonito.

um poema com rimas,

com encantos,

um poema poético.

 

estou demasiado cansada.

incontrolavelmente cansada.

cansada e com tonturas.

cansada e com as pernas bambas.

cansada da estética, do querer ser, do hosting.

 

há pressão em minha fronte

como se a fronte fosse, de fato, fronte

de batalha.

como se a vida fosse o eterno atirar-se de um canhão.

ser um homem-bala.

atingir a outros para,

quem sabe,

voltar todo estropiado

apenas para servir de mais munição

e salvar uma guerra que não é sua.

 

eu não sou o inimigo.

nem você.

mas sou meu próprio algoz.

sou eu quem escava minha sepultura.

sou eu quem contratou o padre,

quem obteve extrema-unção,

quem jogou-se do penhasco

e descobriu ter asas.

fez-se de passarinho e voou.

fez-se de águia e arrancou suas penas.

apenas para ter o prazer

de vê-las crescer novamente.

 

sou meu inimigo

quando me atiro

em coisas que jamais saberei

se são verdadeiras,

se são fantasias,

se são efeitos colaterais,

se são amor.

 

sou a lança

que perfura minha carne,

que mata minhas dores,

que alimenta o verme

que eu mesma criei.

oráculo, de mia sodré

R$ 42,00Preço
  • Mia Sodré nasceu em Porto Alegre em 1994. Formou-se em jornalismo pela PUCRS antes de dedicar-se à literatura. Criou e edita o Querido Clássico.

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