Leia aqui um poema de "os poemas da minha avó", de Patrícia Nardelli:
Amanhece,
o sol feito um cacho de glicínias amarelas
manchando um vestido caro de cetim azul.
Como rosas nascendo nas fronteiras dos jardins:
uma nota ardente no muro em ruínas.
Na manhã de primavera, o chão coberto de jasmins
fingia fazer nevar nos trópicos,
com cheiro doce como compotas.
Amanhece,
o mel das manhãs lentamente se estraga
ao alcançar os lugares mais difíceis de mim,
escondidos em roupas de inverno,
como se fossem as tristezas, axilas da alma.
os poemas da minha avó, de patrícia nardelli
Patricia Nardelli é brasiliense e mora em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, desde 2011. É mestre em antropologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tendo trabalhado com as temáticas de antropologia do gênero, da ciência e feminismo. Enquanto artista, fez formação no Grupo Experimental de Dança de Porto Alegre e produz criações em dança contemporânea, composição sonora, performance, voz e poesia. Lançou o álbum Moira em 2021 e o EP Triplicidades em 2022. Assina a direção e a trilha sonora das peças Três Canções (2019) e Aguaçal (2023) e a trilha sonora da peça Rinha (2023). Publicou o zine de poesia "A escrita escrita" em 2019, pela editora independente Guaipeca (RS) e desde 2018 vem realizando uma pesquisa própria de criação literária a partir da simbologia astrológica cujo processo pode ser acompanhado no site https://casaquatroastrologia.wordpress.com. Em "Os poemas da minha avó" realiza uma arqueologia dos escritos deixados pela sua avó materna, já falecida, utilizando-os para a elaboração de novos poemas que lidam com os temas da morte, da hereditariedade e da fé, entre outros.
https://patricianardelli.com