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Leia aqui um poema de "os sextantes ou a comunhão dos santos", de Vinícius Carvalho:

 

Salmo das Súplicas que latejam nos ossos

 

Senhor

Dá-me um sinal

Diz-me se sou poeta

Se me queres emudecido Um monge

Um asceta

Um falso profeta Ou peregrino

 

Ah Senhor

O que chega a mim É só Silêncio

Tua voz de vácuo Absoluta ausência Não-Ser a estalar meus ossos

 

Senhor

Minha religião É a heresia Ardo na mesma fogueira

Que queimou Putas

Bruxas Bárbaros

E feiticeiros

 

Não tenho o dom

de comer gafanhotos

E se falo em línguas

Entendem-nas

Os vagabundos

Os fracassados

Os descaralhados

Os estrupícios

Da Baixa do Sapateiro

Da Zona do Meretrício

 

Então Deus Terrível

Que explode estrelas

E dizima exércitos

Tira um minuto o olho

Do tabuleiro do teu jogo de Guerra

E me respondes

Quando faço versos Senhor

Tu te alegras

Ou te escondes?

Repara bem meu Deus

Que hoje não estou

Para brincadeiras

Se vem a ser meu Pai

Dispensa-me então

Um segundo de tua atenção

 

Olha-me com esse olhar

que transpassa a carne

e diz-me logo se me queres

vivo nesse mundo.

 

Inculca-me algum senso de missão

Que seja a poesia

Que seja o nomadismo

A mendicância

Ou quarenta anos no deserto

Mas que eu esteja certo!

 

Se não meu Deus

É coisa de pular

Da Rio-Niterói

Não tanto pelo que é

Ou será

Mas pelo que não foi

E ainda dói

os sextantes ou a comunhão dos santos, de vinícius carvalho

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  • Vinícius Carvalho da Silva é Doutor em Filosofia e professor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Finalista do Jabuti Acadêmico de 2025. Autor premiado pela Academia Petropolitana de Letras, o Elos Club Internacional da Comunidade Lusitana, a Fundação Cultural de Petrópolis, dentre outras instituições.  É autor de artigos, livros, ensaios e traduções na área de Filosofia. Escritor de contos, crônicas, ensaios e poemas, pré-quase-artista-plástico, caçador de si, atravessador do Grande Sertão, trotamundos que cruza desertos, sobe montanhas, em busca do Eterno, do Sublime, do Supremo Silêncio. Não mora em uma cabana na Floresta Escura, mas é como se morasse.

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