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Leia aqui um poema de "poemas para um mundo caduco", de F.H. Carvalho:

 

SEGREDOS DO UNIVERSO
(A Ernesto)

 

Com ele reaprendi a olhar para o céu
como quem procura um rosto amigo na festa de São João.
Contou-me,  num fim de tarde, enquanto o sol se dissolvia no rio,
que existe um tal de Éris, frio e acinzentado,
perdido lá longe no sistema solar, quase o mais distante,
carregando consigo Disnomia, como quem leva um segredo sombrio.

Disse também — leve, como quem fala de monstros e heróis —
que os gigantes de gás são nojentos, que os de gelo são sujos e azulados,
bolas de vidro esquecidas na areia da ampulheta do tempo e espaço

Enquanto eu mal lembrava que além de Netuno havia festa,
ele falava do vermelho Makemake escondido no Cinturão de Kuiper,
e de Haumea, essa maluquice que gira tão rápido
que virou uma bola de rugby para um jogo no vazio.

E é sempre nesse instante miúdo, entre planetas anões e poeira de estrelas,
que sua voz torna-se música mística, contando sobre o cosmos
como quem entrega um segredo feito promessa de infância:
só nosso.

E eu, traidor de confidências, venho aqui
espalhar pelo mundo
as intimidades que um menino me confia,
sobre um universo que, no fundo,
é todo dele, mas que ele imagina
que a nenhum bilionário pertence.

Talvez, se eu contar assim, sussurrando,
as estrelas não se importem,
e o filho do Apartheid –
brincando com seus foguetes feitos com diamantes de sangue alheio –
deixe o universo em paz.

poemas para um mundo caduco, de f.h. carvalho

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  • F. H. Carvalho é matemático: por gosto, teimosia, diversão e ofício. Filho orgulhoso de Maria Anunciada de Carvalho (∞ 20/07/2013) com a qual aprendeu algumas das coisas mais belas, tais como, assoviar as músicas do Cartola e cantarolar "Portela na avenida" enquanto ouve o disco da Clara. Hoje em dia pode cantarolar e assoviar para seus dois filhos, Ernesto e León, que não tiveram a sorte de ouvir a avó paterna. Entre os anos de 1995 e 2004, atuou como professor em escolas municipais, estaduais e cursinhos no estado do Espírito Santo; também atuou por dois breves períodos na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), sua alma mater. Atualmente, é professor de matemática na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), nas margens do Velho Chico, na cidade de Juazeiro (Bahia) vizinha à cidade de Petrolina (Pernambuco), onde reside desde setembro de 2004. Idealizou e financiou (juntamente com dois parceiros de trabalho e ócio) bem como participou como autor dos volumes 1, 2 e 3 da revista literária Acauã, distribuída gratuitamente no Vale do São Francisco nos anos de 2011, 2012 e 2014, respectivamente. Trabalhou no projeto da HQ "Crossroad Shot (Ou o Xote de Encruzilhada)" – que um dia deve sair pelas estradas da vida – como roteirista; publicou o livro “Cálculo Diferencial e Integral volume 1”, pelo Programa de Elaboração de Material Didático (PEMD) da UNIVASF, programa que ajudou a implementar e coordenou por um curto período de tempo. Publicou ainda, pela editora Viseu, o romance “Ética Demonstrada à maneira dos canalhas”. Com textos elaborados desde o ano 2000, “Poemas Para Um Mundo Caduco (ou Habanera da Revolução)” é seu primeiro livro contendo alguma poesia – embora talvez o autor discorde.

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