Leia aqui um poema de "santa ralé", de Ágatha Kreisler:
EU SÓ FARIA LAVA-PÉS EM PÉS DE GALINHA
negue meu nome três vezes
na quarta não tenha voz
é difícil o querer das castanheiras:
produzir a carne que se come:
brutalidade do que apenas o que é belo tem
desmente,
Cobra Cecília,
desmente!
diz que não foi a carne minha que tu comeu,
diz que não foram as minhas mãos que lavaram as tuas e,
agora
lava tua barriga
prepara teu próprio lava-pés
contenta-te com o silêncio das salas católicas
nunca poderia eu
nem por amor
nem por ódio
todos os suspiros que dou são
de amor
ou de ódio
quase tudo era imenso
afago afogo atropelo
perdizes,
eu só faria lava-pés em pés de galinha
sou feita da mesma matéria
das plantas rasteiras
que queimam
isso é tudo que tenho a ver com pés
escarra na boca
tranque a porta ao sair
cata na faca o meu novo nome:
eu sou o fio da navalha
santa ralé, de ágatha kreisler
Ágatha Kreisler ou mula sem cabeça ou mulher do padre ou fera de colo e caça, tem 26 anos e é moradora da Zona Oeste do Rio de Janeiro. É artista visual e poeta, entusiasta do profano e do sagrado e parte da Santa Ralé