Leia aqui um trecho de "thales ou o desconhecimento", de Vitor Ribeiro-Santos:
 
A verdade é que penso muito, sentado em cadeiras de plástico ou ao fundo de ônibus encharcados, no que de fato significa seguir a frequentar um espaço como aquele (como este) em que te encontrei. Se posso ao final do dia afirmar que carrego em minha enorme mochila algum tipo de sinceridade comigo ou com o mundo. Se ao toque de minhas palavras as coisas não se esvaziam, posto que não foram criadas para que ninguém acreditasse nelas, muito menos as ensinasse. Posto que não foram criadas para que fossem verdade. 
Eu estou de pé; eles – dentre os quais você, em minha memória – estão, com variações da mesma roupa, sentados. Apenas eu falo, salvo se eventualmente cedo a algum de vocês o direto à voz – caso julgue, em minha competência, coerente ou necessário. Concedo licenças até para que vocês possam ir ao banheiro, tomar água, falar com alguém, sair. Culmino todos nossos processos em um número que resumiria o sucesso daquilo que, juntos, pensamos e vivemos. Denuncio gestos ríspidos, mobilizo vigilância e sanção para o meu auxílio. E qualquer coisa que eu faça de diferente disso será apenas a exceção a confirmar, uma vez mais, a inevitável sombra da regra, a pesar com mais força e cinismo sobre bairros distantes, pratos gelados, paredes sujas, mesas com insultos escritos.
            É impossível que sejamos ensinados, Thales, diz aqui o seu professor, temendo, uma vez mais, te ensinar. Mobilizando uma vez mais a fala. A lembrar com reverência de sua escolha convicta e silenciosa por, sob meus olhos, não aprender nada.