Leia aqui um poema de "travessiar: da travessia ao verbo", de Cristina Parreira:
domingos e pepinos
o aviso era afiado e certeiro
feito corte de lâmina a fatiar os pepinos
aos domingos, dizíamos às crianças:
-cuidado! machuca!
obstinadas, não ouviam
queriam testar o amor
testavam também a esperança
de domar a faca e não sofrer o corte
de abafar o choro que acanhado caía
de secá-lo ao modo-de-flor
entre as folhas do Romance de cabeceira
entre o chamado:
-vem, mãe, canta pra mim! não faço mais
nunca mais tomaram a faca
tampouco evitaram o corte, o choro
por vezes, gritaram “vem, mãe”
ainda
aos domingos
estamos a fatiar os pepinos
travessiar: da travessia ao verbo, de cristina parreira
Cristina Parreira, casada há 13 anos, mãe de duas meninas, tem uma relação muito especial com a leitura e, consequentemente, com a escrita. Seus textos nascem a partir de inspirações do dia a dia. E de muita transpiração. Licenciada em Letras, é professora de Literatura, Gramática e Redação, há 12 anos, de colégios da rede particular de ensino, em São José do Rio Preto – SP, atuando nos ensinos Fundamental ll e Médio e em curso pré-vestibular. Alguns de seus poemas podem ser encontrados em Antologias poéticas, como “Retrospectiva 2021”, “Uma mulherzinha não. Um Mulherão” (Editora Toma aí um poema); “O som da chuva” (Editora Tenha Livros); “Elas, a poesia, o infinito” (Editora expressividade); “Nós: textos de autoria feminina” (Editora Selo Off Flip), além de seu livro de poemas “Sobre todos os Vãos” (editora Ases da Literatura). Também é cantora e compositora, apaixonada pelas artes.