Leia aqui um poema de "às de copas", de Beatriz Nogueira:
palavra-oração
o amor sempre em primeiro lugar
graças a deus a gente tem o amor
gravo as palavras de minha mãe num pequeno gravador,
sua voz, os ruídos de fundo,
as risadas das crianças,
o barulho da obra em frente à sua varanda,
o tilintar dos penduricalhos no retrovisor do carro,
o som da seta para esquerda
gravo sua voz cantando
numa língua ancestral
entoando louvores do outro lado do atlântico
toda quarta-feira
àwuré, Xangô, àwuré
você não sabe pedir socorro não?
eu duvido que você não vai saber rezar
quando a coisa pegar fogo
minha mãe me ensinou a rezar:
os joelhos na esteira,
com a cabeça apoiada nas mãos
rezamos para o amor
rezamos para a boa sorte
rezamos para o tempo
ventania nos céus cor de chumbo,
correnteza e cascata
nos rios de águas turvas
e na água clara das taças de cristal
a voz de minha mãe ressoa
firme e elevada
gravo sua voz como quem teme perdê-la um dia
gravo sua voz para celebrá-la
celebro e guardo seu amor em forma de verbo
às de copas, de beatriz nogueira
Beatriz Nogueira nasceu em 1997, em itapetininga - são paulo. dezenove anos depois ingressou na faculdade de letras da universidade de são paulo. saiu das salas de aula para os fogões das cozinhas da cidade, mas a literatura e a escrita permaneceram, sobreviveram e sustentaram seu espírito, assim como o candomblé e a jurema sagrada também o fizeram. as palavras, o amor, a fé e o estudo das cartas de tarô alimentaram esse sonho-promessa-projeto, concretizado nesse livro.

